O voto no Brasil está cada vez mais consolidado em termos geográficos: neste ano, em quatro de cada cinco municípios, o partido vencedor na disputa presidencial foi o mesmo da eleição de 2010. Essa tendência de “cristalização”, em que uma região pende sempre para determinada força política, teve início em 2006, quando o mapa eleitoral do País ficou pela primeira vez dividido entre o vermelho petista e o azul tucano.
Apenas 1.168 cidades votaram diferentemente neste ano na comparação com 2010, e 4.397 repetiram o padrão - os resultados se referem ao 1.º turno. É a menor variação desde 1998. Além disso, de 2006 para cá, 3.733 cidades sempre votaram majoritariamente no mesmo partido. São quase dois terços do total.
Os números do 2.º turno seguem a mesma lógica: apenas 813 cidades (15%) mudaram de lado entre 2010 e 2014 (veja mapa). Levando-se em conta as últimas três eleições presidenciais, isso aconteceu em apenas 23% dos municípios.
Isso significa, no médio prazo, que partidos e candidatos têm cada vez menos regiões volúveis - que não estão alinhadas com um lado ou outro - para conquistar. Além de mais largo, o abismo eleitoral está mais profundo: as cidades petistas e antipetistas estão cada vez mais homogêneas internamente.
Nos redutos antipetistas, a vantagem do candidato do PSDB sobre a presidenciável do PT, Dilma Rousseff, subiu sete pontos porcentuais de 2010 para 2014 - de 13 para 20 pontos. No mesmo período, a margem de vitória de Dilma nas zonas petistas foi de 30 para 33 pontos. Em outras palavras, há cada vez menos tucanos em cidades petistas, assim como petistas em áreas tucanas.
Redutos. O Estadão Dados examinou os resultados da votação para presidente em cada município desde 1994 - até onde vão os dados publicados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A análise indica que a divisão geográfica do voto é relativamente recente. De 1994 a 2002, o presidente eleito recebia uma votação relativamente homogênea em todo o País. Foi só a partir de 2006 que o eleitorado passou a se dividir em zonas petista, antipetista e volúvel.
“A tendência é, de fato, de uma consolidação geográfica do voto”, diz o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas. “Existe uma região claramente petista, mas me parece haver mais uma região antipetista que propriamente tucana.” Isso porque, segundo Couto, o eleitorado do PSDB agrega tanto eleitores tradicionais do partido - de tendência social-democrata - quanto a direita histórica, “que vai para os tucanos por gravidade”.
Para Couto, outro indício da existência de um eleitorado mais antipetista que tucano é o fato de uma parcela significativa da população ter considerado dar um voto útil em Marina Silva, presidenciável do PSB, quando parecia que ela tinha mais chances de derrotar Dilma.
Segundo o pesquisador, a diminuição do eleitorado volúvel deixa aos partidos duas estratégias de campanha diversas: “Eles podem enfatizar a busca pelo eleitor indeciso ou radicalizar o discurso para aumentar a margem de vitória nos seus redutos”.
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