BRASÍLIA - Em clima de campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) deve visitar no mês que vem Estados do Nordeste, região onde ele enfrenta os maiores índices de rejeição. Em conversa com apoiadores, nesta terça-feira, 18, Bolsonaro sinalizou que viajará em fevereiro para a Paraíba e o Ceará, berço político do ex-governador Ciro Gomes, pré-candidato do PDT ao Palácio do Planalto.
Desde que recebeu alta do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde ficou internado com um quadro de obstrução intestinal no começo deste mês, o presidente tem feito acenos às suas principais bases eleitorais e reciclado ataques contra as instituições. Pressionado pelo efeito eleitoral da alta da inflação, ele também voltou a criticar a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nos Estados, classificado como "vilão" do preço dos combustíveis no País.
Agora, Bolsonaro mira em um público que costuma votar no PT e, principalmente, em Lula: a população mais pobre do Nordeste. A região virou um celeiro de votos do PT. Como trunfo para conquistar esse eleitor, o presidente tem o Auxílio Brasil de R$ 400, que substituiu o programa de transferência de renda Bolsa Família, lançado quando Lula era presidente. "Vou estar no mês que vem na Paraíba e acho que Ceará também”, disse o chefe do Executivo a apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada.
Na última sexta-feira, 14, Bolsonaro já havia citado o Auxílio Brasil em um aceno aos eleitores do Nordeste. Durante uma entrevista para a Rádio Uirapuru Jaguaribana, do Ceará, disse que seu governo se resume em “auxílio, obras e pautas conservadoras”. O presidente também aproveitou para atacar Lula e partidos de esquerda.
Em 6 de janeiro, um dia após sair do hospital, Bolsonaro concedeu entrevista à TV Nova Nordeste, elogiou a região e citou obras locais. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada em 14 de dezembro, Bolsonaro alcança 67% de rejeição no Nordeste, acima dos 60% no Brasil como um todo. Em 2018, o presidente perdeu na região para o então candidato do PT, Fernando Haddad.
Estratégia
Na semana seguinte à alta hospitalar, numa tentativa de recuperar popularidade, Bolsonaro reservou sua agenda para entrevistas -- a maioria delas concedida a veículos de comunicação alinhados ao governo --, participação em culto evangélico e presença em partida de futebol organizada por cantores sertanejos. A estratégia foi preparada para reagir às críticas enfrentadas por ele nas redes sociais.
De 6 a 13 de janeiro, Bolsonaro voltou a criticar, ainda, os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, seus alvos prediletos no Supremo Tribunal Federal (STF), escalou o conflito com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em torno da vacinação infantil contra a covid-19 e usou a inflação de 10,67% de 2015, no governo da petista Dilma Rousseff, para justificar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 10,06% em 2021.
Nesta terça-feira, 18, Bolsonaro também fez uma crítica velada ao ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (Podemos), pré-candidato à Presidência. "Depois da saída de um cara que estava na Justiça, não vou falar o nome dele aqui, eu acho que quintuplicou a apreensão de drogas", afirmou a apoiadores.
No último dia 10, Bolsonaro já havia criticado o ex-juiz da Lava Jato. Em entrevista exibida naquele dia pela rádio Jovem Pan, questionou se Moro entrou no governo em 2019 com o objetivo de se preparar para concorrer a presidente. "Ele foi no meu governo para fazer um trabalho sério, para se blindar ou para se preparar para ser futuro candidato à Presidência da República? Têm três alternativas. Não deu certo, tirei ele fora, tinha que tirar", declarou.
Sobre Lula, Bolsonaro tem dito que o petista quase “quebrou” a Petrobras e pode voltar à “cena do crime” junto com o ex-governador Geraldo Alckmin, que negocia uma aliança para ser vice na chapa do PT.
"Muitos de vocês, a maioria de vocês que trabalham comigo poderia estar muito bem fora [na iniciativa privada], mas está aqui dando a sua cota de sacrifício, ajudando esse Brasil a, realmente, vencer essa crise aqui, que se encontra no momento, e fazer também com que não volte para as mãos de bandidos, canalhas, que ocupavam esse espaço aqui para assaltar o País para um projeto de poder", declarou Bolsonaro, durante o lançamento de linhas de crédito para o setor de Aquicultura e Pesca no Palácio do Planalto, em 12 de janeiro.
Na pesquisa Ipespe mais recente, Lula obteve 44% das intenções de voto para o primeiro turno da eleição. Bolsonaro veio em segundo lugar, com 24%. Moro figurou em terceiro, com 9%, e Ciro, em quarto, com 7%.
Na simulação de segundo turno, Lula teria 56% dos votos totais e Bolsonaro, 31%. Em um cenário com Moro e Bolsonaro no segundo turno, o ex-ministro teria 36% e o presidente, 29%.
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