Uma combinação de fatores deixa a empresária Camila Coutinho, de 42 anos, de Cajamar, otimista em relação ao desempenho de membros de grupos de renovação e formação política nas eleições 2020. Para ela, que é pré-candidata a prefeita no município paulista de quase 80 mil habitantes, os associados de RenovaBR, Livres, Acredito, Agora e Raps têm a vantagem de estar em grupos que neste ano apostam no interior como um espaço para expandir seus raios de influência para além das capitais.
Camila, que ainda não escolheu seu partido, acredita que a chancela do RenovaBR fará diferença para ela em outubro, mais até do que a sigla pela qual sairá candidata. Um “selo” que será usado para driblar a desconfiança da população em relação aos partidos. “Quando se fala em partidos, envolve tanta gente que nem sempre é 100% de renovação”, diz. “Os grupos estão capacitando lideranças nos municípios, que é onde as coisas acontecem e onde vivem pessoas comuns que fazem a diferença. Com isso, os movimentos também se fortalecem.”
Mais de 60 cidades paulistas deverão ter candidatos chancelados pelos grupos de renovação e formação política. Pelo menos 180 participantes dos cursos do RenovaBR declaram ser pré-candidatos no Estado de São Paulo - 33 ao cargo de prefeito. A Raps informou que 72 associados têm a intenção de concorrer - 14 deles para o Executivo. O Livres seleciona pré-candidatos de uma lista de 21 inscritos - 3 são para prefeito - e o Acredito prevê 15 candidatos a vereador. O Agora não informou dados.
Os grupos e movimentos de renovação e formação política tomaram corpo no País após a onda de manifestações de junho de 2013. Os atos ganharam um tom de insatisfação com os políticos e partidos tradicionais. Em 2018, em meio a uma crise de representatividade, o número de alunos e apoiadores destes grupos se multiplicou. Esses movimentos ajudaram a eleger 58 políticos em 2018, sendo 30 no Congresso. Entre eles, nomes como Tabata Amaral (PDT-SP), Vinicius Poit (Novo-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES).
Agora, a intenção é avançar para o interior, segundo o presidente do Livres, Paulo Gontijo. Ele afirma que os movimentos precisam lidar com uma tendência natural de falar de temas mais genéricos, como renovação política e liberdade econômica. “Isso tem de se traduzir em solução nos municípios”, afirma. “Para crescer para além do público de voto de opinião, que está nas cidades grandes, você precisa de lideranças regionais qualificadas e elas precisam de um ‘selo’ de qualidade, algo que antes vinha de um cacique eleitoral local”, completa.
Nas últimas eleições municipais, partidos tradicionais dominaram as disputas nas prefeituras em São Paulo, com o PSDB conquistando 163 cidades. MDB, PTB, PSD e DEM vêm na sequência, com mais de 50 municípios. As pré-candidaturas dos grupos de renovação, segundo levantamento feito pelo 'Estado', estão espalhadas por várias legendas.
“A estrutura dos partidos políticos tem muita concentração de poder nos diretórios nacionais e isso fica evidente principalmente nos municípios”, diz o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Mackenzie. Para ele, o avanço dos grupos para o interior é um movimento natural após a experiência eleitoral nacional. “Nesta ida ao interior, ocupam um espaço que os partidos deveriam ocupar, de educação política e formação de quadros.”
Resistência. A resistência da “política tradicional” não é motivo de preocupação para pré-candidatos de grupos de renovação. Estreante na política, João Viana, 19 anos, quer uma vaga na Câmara de São Bernardo do Campo. Integrante do Acredito e ainda sem partido, ele promete lutar contra a “demonização” da política. “Os movimentos cívicos são o que você tem na política como o melhor enfrentamento à má política.”
No segundo mandato como vereador em Mogi das Cruzes, Caio Cunha (PV) quer se lançar à prefeitura. Membro da Raps, ele entende que a renovação no interior pode passar pela qualificação política, inclusive de quem já está no jogo. “É um momento de amadurecer e os partidos deveriam fazer isso com seus quadros, mas não fazem”, afirma.
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