Resultado de prévias do PSDB deve influir no tamanho do centro político

Escolha do pré-candidato tucano à Presidência terá reflexo na articulação para a formação da terceira via; Doria e Leite são favoritos em disputa que expôs racha na sigla

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Foto do author Pedro  Venceslau

O PSDB escolhe hoje seu pré-candidato à Presidência da República em uma definição que terá reflexos nas articulações para a consolidação de uma terceira via na disputa de 2022. O resultado das prévias do partido, nas quais disputam efetivamente os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), deverá influenciar no processo de concentração ou expansão de outras pré-candidaturas colocadas no chamado centro político.

Após dois meses de campanha oficial, os concorrentes tucanos – incluindo Arthur Virgílio (AM), ex-senador e ex-prefeito de Manaus – ainda são vistos com ceticismo pelos partidos e lideranças que buscam alternativas eleitorais à polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas de intenção de voto, e o atual presidente Jair Bolsonaro. Tanto Doria quanto Leite afirmam que estão abertos a uma aliança que não tenha necessariamente o candidato tucano como cabeça de chapa, mas o primeiro passo concreto nesse sentido vai ocorrer nos dias seguintes à divulgação do resultado. O vencedor das prévias deve fazer gestos no sentido de união das forças de centro.

As prévias do PSDB são disputadas pelosgovernadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), e pelo ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio; na foto, os candidatos participam de debate promovido pelo 'Estadão', em São Paulo. Foto: Felipe Rau/Estadão - 12/11/2021

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Se o governador paulista for o vitorioso, a expectativa é que ele e o ex-ministro Sérgio Moro estreitem a relação após as prévias do PSDB e sejam vistos juntos em iniciativas de unidade da terceira via, que hoje soma mais de dez nomes.

O primeiro movimento para afunilar esse campo seria unir os dois “players” apontados como mais fortes, que seriam Moro e o escolhido tucano. Alguns integrantes do PSDB sonham com um palanque presidencial com Doria e o ex-juiz, mas ambos não pretendem falar disso tão cedo. Ontem, Doria defendeu conversas com outros pré-candidatos da terceira via e citou, além de Moro, os nomes do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e da senadora Simone Tebet (MDB). “Terceira via, se não for fragmentada, será a melhor via”, disse.

Ironizando Doria, que falou em procurar os presidenciáveis, Leite buscou se apresentar como melhor opção para construir uma aliança. “Não preciso buscar; sempre tive diálogo com essas candidaturas e deixei claro que não se trata de projeto pessoal”, afirmou, voltando a sinalizar que pode abrir mão da cabeça de chapa.

Unidade

Outro desafio imposto está na unidade do próprio PSDB. Publicamente, os governadores de São Paulo e do Rio Grande do Sul já se comprometeram a apoiar o vencedor em caso de derrota. O acirramento das primárias internas atingiu um nível mais elevado do que o imaginado. Segundo avaliação de parte do tucanato, o presidenciável escolhido terá uma missão delicada pela frente: promover uma conciliação com ala bolsonarista da bancada federal, cerca de 15 dos 34 deputados, ou o expurgo desse grupo.

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Processo inédito, as prévias devem movimentar mais de 44 mil filiados. Apesar de o número representar só 3% do total de tucanos no País, a decisão de reuni-los nas prévias pode ajudar a sigla a recuperar parte de seu protagonismo. Esse movimento vai depender da capacidade do vencedor em construir novas pontes em Estados onde o eleitorado já foi majoritariamente tucano – como Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul –, mas aderiu a Jair Bolsonaro em 2018. “Essa parte da bancada vai permanecer ou aderir ao bolsonarismo? A dinâmica das prévias tem potencial de unificação, mas isso vai depender da habilidade do vencedor de estabelecer a unidade”, avaliou o cientista político José Álvaro Moisés, da USP. 

Fraturas

“A impressão era que as prévias fortaleceriam o PSDB, mas foram muitos os desgastes. O saldo foi mais negativo do que positivo”, disse o deputado federal Junior Bozella (SP), dirigente do União Brasil, partido que nasce da fusão de DEM e PSL. A nova legenda terá uma das maiores fatias dos fundos públicos de financiamento de campanha e de propaganda na TV, potencial na mira dos partidos do centro expandido, como o PSDB e o Podemos, de Moro. 

“A chegada de Moro baixou o ímpeto do PSDB”, afirmou Bozella. Presidente do PSDB, Bruno Araújo discorda. Diz acreditar que as prévias darão “musculatura” ao escolhido no domingo. /COLABORARAM ADRIANA FERRAZ E EDUARDO GAYER