O candidato do partido Novo à Prefeitura de São Paulo, Filipe Sabará, enviou carta à direção do partido nesta quinta-feira, 29 requerendo sua desfiliação da legenda e desistindo de vez das eleições. Ele havia sido expulso do partido na semana passada, por uma decisão do conselho de ética da legenda, mas tinha até o próximo sábado, dia 31, para recorrer da decisão. A partir desta sexta-feira, 30, as propagandas do candidato não serão mais divulgadas pelas emissoras de rádio e TV. Dirigentes do Novo ouvidos ao longo da semana pelo Estadão afirmam que a decisão de desistir da campanha na cidade foi uma atitude que reforçou os valores defendidos pela legenda. No documento de desfiliação, Sabará criticou o processo de expulsão, afirmando que a decisão teria sido tomada sem provas. “A condenação veio antes e independente de provas, sendo o ponto de partida de um processo que não é nem devido, nem legal”, diz o texto. Ele classificou o processo como “‘sob medida´, quase de exceção, cujo resultado já estava definido, antes mesmo da sua instauração”.
Sabará foi expulso do partido acusado de ter prestado informações falsas sobre sua formação acadêmica, e teve sua candidatura indeferida pela Justiça quando sua vice, Marina Helena, renunciou. Sua saída se seguiu a ataques de que o Novo tinha um “cacique”, o fundador e ex-presidente João Amoedo, e que a questão de fundo do processo seria o fato de Sabará fazer elogios explícitos ao presidente Jair Bolsonaro, enquanto Amoedo adota uma postura crítica ao presidente nas redes sociais. Ao longo desta semana, diversos integrantes da legenda comentaram o caso. Eles admitem que a falta de um candidato majoritário poderá prejudicar a campanha dos seus 34 candidatos à Câmara Municipal. O discurso é que os eventuais contratempos são um “prejuízo menor” diante de concorrer com um candidato que tivesse pontos de sua carreira que precisavam de esclarecimentos.
Os integrantes da legenda concordam que há divergências sobre como o Novo tem de se portar com relação ao presidente, mas destacam que, se o caso de Sabará fosse puramente político, haveria membros do partido que concordam com as posições do agora ex-candidato que sairiam em sua defesa, o que não aconteceu. Além disso, a avaliação é que uma resposta incontestável acerca da veracidade do currículo do candidato afastaria o processo de expulsão.
O líder do partido na Câmara, deputado Paulo Ganime (Novo-RJ), garante que Amoedo não faz nenhuma interferência nas decisões dos parlamentares do partido no Congresso, mas disse que a convergência de ideias pode fazer com que as pessoas tenham essa impressão. “Se ele (Amoedo) fala alguma coisa e o Novo concorda, parece que é uma decisão dele”, disse.
Esses princípios são de redução do tamanho do estado, defesa de privatizações, corte de impostos e regras internas que proíbem o uso de recursos públicos pela legenda e exigência de experiência em gestão por parte de candidatos.
Ganime ressalta que essa sintonia de ideais não se dá em todos os temas que as divergências são naturais, citando como exemplo o posicionamento de Amoedo sobre a obrigatoriedade da vacinação (a favor), diferente daquele defendido pelo parlamentar.
Deixando claro que não teve acesso aos detalhes do caso Sabará, Ganime afirmou que a falta de um candidato majoritário pode ser prejudicial a legenda, mas defendeu a decisão do Novo.
“No curto prazo, pode prejudicar as candidaturas a vereador, pode ser um risco. Mas é melhor fazer o certo do que fazer dar certo a qualquer custo. Poderia ter tratado de forma diferente, não ter exposto (o caso)? Talvez, mas poderia ser pior. Dado os fatos colocados na mesa, o Novo reagiu da forma correta, mesmo que isso tenha representado a gente não ter candidatura na maior cidade do País”, disse.
O discurso vai ao encontro do presidente nacional do Novo, Eduardo Ribeiro, que vê um prejuízo para a atual campanha, mas um reforço das bandeiras da legenda para as eleições seguintes. “É um episódio triste, que sem dúvida traz um desgaste para a campanha, mas a nossa chapa de vereadores em São Paulo é muito qualificada e temos certeza de que eles vão ter um desempenho muito bom”, disse. “O que fica é a prova de que o Novo não tem compromisso com o erro, e para se manter fiel aos seus princípios está disposto a sacrificar a candidatura majoritária na maior cidade do país”, complementa Ribeiro.
O deputado estadual Heni Ozi Cukier, entretanto, vê esse ponto como uma dificuldade extra para uma campanha que já seria difícil. “O Novo tem se saído melhor nas eleições legislativas do que na eleição majoritária. O principal desafio do partido é fazer campanha sem fundo eleitoral e sem uma base constituída. As eleições neste ano são muito pró-establishment.” Entretanto, na avaliação dele, o partido agiu corretamente no caso de Sabará. “Maior prejuízo seria seguir com uma candidatura em que pairasse dúvidas.”
Já a vereadora Janaína Lima, única parlamentar do partido na cidade e que tenta a reeleição, o caso reforça as bandeiras da legenda. “Foram os próprios filiados que colocaram essa divergência (sobre Sabará) e pautaram a imprensa”, afirma. “O Novo não é um partido, é uma instituição que está sendo construída. Isto são as dores do crescimento.”
Para ela, tomada a decisão do conselho de ética pela expulsão, coube aos filiados acatar o que foi decidido. “Pode desagradar outros filiados que estão concorrendo com cadeira no legislativo. A gente pode ficar pensando se haveria outra solução. Nem tudo o que acontece no partido 100% dos filiados vão concordar”, disse. “O compromisso do partido não é eleger a maior bancada da cidade. É eleger uma bancada comprometida com os valores e os compromissos que o partido apresenta.
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