'Saí de lá com a situação resolvida', diz general

General avalia que o extermínio da comissão militar da guerrilha determinou o fim do movimento armado

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Foto do author Leonencio Nossa

BRASÍLIA - Mais destacado combatente no Araguaia ainda vivo, o general da reserva Nilton Cerqueira, 83 anos, que após a ditadura comandou a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, relata que o Exército demorou para identificar o corpo do ex-deputado federal Maurício Grabois, o comandante da guerrilha morto numa operação na manhã chuvosa do Natal de 1973. Cerqueira lembra que só depois de sair da região com sua tropa é que se concluiu que o guerrilheiro estava entre os quatro mortos. "Nós não tínhamos como identificá-lo."A operação foi desencadeada por paraquedistas sob as ordens de Cerqueira, que escolheu os homens para o ataque. Uma biografia do PC do B sobre o chefe da guerrilha registra erroneamente que Grabois foi morto pelo então capitão Sebastião Curió - o mesmo livro, na sua primeira versão, destaca que o guerrilheiro paulista era baiano. Numa exposição recente na Câmara dos Deputados sobre a história do partido, o PC do B expôs nove fotos do ex-presidente Lula e dez do ex-dirigente João Amazonas. Não foram expostas imagens de Grabois ou dos demais mortos no Natal de 1973 - Gilberto Olímpio Maria, Guilherme Gomes Lund e Paulo Mendes Rodrigues.Cerqueira relata que foi enviado ao Araguaia para "resolver a situação". Ele avalia que o extermínio da comissão militar da guerrilha determinou o fim do movimento armado. "Não (fui enviado) para uma varredura. Ficamos lá muito tempo até praticamente resolver o problema. Saí de lá com a situação praticamente resolvida", disse. "As pessoas que estavam conduzindo aquele morticínio do lado dos guerrilheiros eram muito frágeis. A comissão deles foi batida no Natal e a partir daí perdeu-se totalmente o aspecto que eles queriam dar de conquista do terreno do sertão brasileiro."O militar relatou que o regime teve de montar uma rede de informações específica para garantir o trabalho das tropas especiais na selva amazônica. Ele observa, porém, que parte das missões foi executada sem apoio ou dados da inteligência e da informação. "A parte da inteligência, informação, não existe neste tipo de área. Se o cara da tropa, da guerrilha, está mudando a toda hora, a informação que foi hoje já não é amanhã. E se você for atrás você vai pegar gente inocente. Então você tem que ter a informação imediata e responder pelo que vai fazer."

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