Eleito com o apoio de evangélicos, comunistas e pragmáticos, Paes supera bolsonarismo e mira 2026

Prefeito reeleito do Rio de Janeiro deve se tornar o mandatário mais longevo da História da capital fluminense

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Foto do author Rayanderson Guerra

RIO – Como se percorresse a Marquês de Sapucaí ao som da “Tabajara do Samba”, bateria da Portela, em 2017, 1984 e 1980 – títulos mais recentes da “Majestade” da zona norte –, Eduardo Paes (PSD), prefeito reeleito do Rio de Janeiro, “passou” pela campanha pelo quarto mandato sem desalinhos, cravando uma nota alta em evolução da candidatura e com um enredo de “ode à capital fluminense”.

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O título conquistado com o apoio de 1.861.856 eleitores, 60,47% dos votos válidos nas eleições municipais deste ano, coroará Paes ao fim de 2028 como o prefeito que mais tempo passou no comando da segunda maior cidade do País. Uma espécie de “Portela dos prefeitos cariocas”, o que detém o maior número de mandatos na História.

Sem uma Mangueira ou Salgueiro como adversária na disputa municipal, Paes disputou o Palácio da Cidade contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), a escolha envergonhada do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para liderar o bolsonarismo no reduto eleitoral do clã da zona oeste.

A inexperiência do ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em disputas majoritárias, digna de uma escola recém promovida ao Grupo Especial, fez a campanha bolsonarista estacionar. Desconhecido pelos cariocas, Ramagem apostou em um samba de uma nota só: o apelo à segurança pública e à popularidade do capitão reformado do Exército. Chegou a reduzir a distância para Paes no reta final, mas não foi suficiente para um novo embate no segundo turno. Terminou com 30,81% dos votos válidos.

Bancado pelos filhos do ex-presidente, Ramagem não foi a primeira escolha de Bolsonaro para representá-lo no Rio de Janeiro. Cogitou-se o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, o ex-ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, e até o “01”, senador Flávio Bolsonaro (PL). Por fim, chegou-se ao nome do delegado.

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As alas de Paes: evangélicos, comunistas, pragmáticos e direitistas

Bom de papo, carioca e workaholic, Paes regeu as alas dos comunistas, evangélicos, pragmáticos e direitistas na campanha. Ao fim da disputa, o prefeito reuniu ao seu lado a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), o pastor evangélico Otoni de Paula (MDB), o ex-deputado federal Alessandro Molon (PSB), Marcelo Freixo (PT), a ex-delegada Martha Rocha (PDT) e integrantes de partidos de centro-direita.

O prefeito reeleito Eduardo Paes (PSD) em coletiva na residência oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro, na zona oeste da cidade.  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O destaque ficou aos agradecimentos efusivos ao padrinho. “Quero dedicar essa vitória ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva”. No Rio, o apoio do petista não foi o fator decisivo. Pesou a figura do prefeito.

Urnas apuradas, vitória confirmada e agradecimentos feitos, Paes já mira o próximo desfile da democracia: 2026 é logo ali. A disputa campal aberta entre o prefeito e o governador do Estado Cláudio Castro (PL) deve se repetir no próximo pleito, a despeito da bandeira branca levantada por Paes no discurso de vitória. “A partir de hoje, terminam os conflitos, a gente vai trabalhar junto, nós queremos ajudar o seu trabalho, não é nossa responsabilidade. Acabou o conflito, acabou a disputa”, afirmou Paes neste domingo, 6.

O prefeito jura pela Portela e pelos filhos que não almeja a cadeira do Palácio Guanabara. Aliados já não são tão taxativos. Caso o cenário político fluminense atual se mantenha, Castro deverá escolher um sucessor, ainda sem candidatos fortes, a esquerda patina – como sempre – no Estado e Paes busca assumir o papel de articulador. Falta combinar com os partidos que o apoiaram.

Um dos aliados improváveis nesta eleição diz que “o caminho para a esquerda no Rio é se aliar ao centro”. Lula deverá ter novamente papel decisivo em 2026. Ao abrir mão do candidato a vice de Paes, o petista espera uma contrapartida ao Partido dos Trabalhadores nas próximas eleições.

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O prefeito Eduardo Paes (PSD) e o governador do Rio, Cláudio Castro (PL) Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Já Bolsonaro, mantém um capital relevante no reduto eleitoral que o lançou na política e fez, novamente, Carlos Bolsonaro o vereador mais bem votado no município.

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Dudu, pseudônimo carioca de Paes, encerrou a campanha ao som da Velha Guarda da Portela e de Xande de Pilares em uma comemoração no Parque Oeste, em Inhoaíba, na zona oeste da cidade. Entoando os versos “Quem pensou que a gente não fosse chegar onde a gente chegou”, da música Moleque Atrevida, Paes reuniu uma multidão no fim do domingo ao lado de Tia Surica, baloarte da altaneira águia azul e branca.

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