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Opinião | A escolha de Sofia de Lula: CEF para Centrão, Petrobras para políticos e mirando no déficit zero

Governo se comprometeu com déficit zero em 2024, mas Lula já admite que não dá, num típico sincericídio; chacoalha Bolsa e câmbio, irrita o Congresso e enfraquece o principal ministro, Fernando Haddad

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Foto do author Eliane Cantanhêde

Ao nomear Ciro Nogueira, do PP, Jair Bolsonaro admitiu que dava o “coração do governo” para o Centrão. Hoje, Lula nomeia para a Caixa Econômica Federal o indicado de Arthur Lyra, também do PP. Dá o que de bandeja para o Centrão? O bolso, o cofre, uma grande máquina eleitoral? Pode estar contratando um problemão para logo adiante.

A CEF tem mais poder, dinheiro, ramificação e força eleitoral do que grande parte, talvez até a maioria dos ministérios. Em 2022, seu patrimônio líquido era de R$ 122 trilhões e seu lucro líquido bateu em R$ 9.2 bilhões. No primeiro trimestre deste ano, sua carteira geral de crédito chegou a R$ 1 trilhão. Um canhão, inclusive na guerra político-eleitoral.

O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante café da manhã oferecido a Imprensa no fim da manhã da sexta-feira, 27 Foto: Wilton Junior / Estadão

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Espalhada pelo país inteiro, mesmo em pequenos municípios, a CEF oferece crédito para pessoas físicas e jurídicas, habitações populares, casas e apartamentos da classe média e de alto padrão e chega ao topo, o agronegócio. Ou seja, atinge todos os patamares eleitorais, dos mais pobres aos mais ricos. Só para a carteira do agro – calcanhar de Aquiles de Lula -, foram R$ 47 bilhões no primeiro trimestre, 125,5% a mais do que no mesmo período do ano passado.

Já imaginaram o Centrão botando a mão nisso tudo? Além da presidência, quer todas as vice-presidências e diretorias da Caixa, inclusive a de habitação, joia da coroa. É a tal “Porteira fechada”, os cargos de cabo a rabo. Lula empurrou a demissão de Rita Serrano com a barriga por uns quatro meses, mas não teve jeito e a gota d’água foi infantil e grosseira: a exposição na Caixa com um quadro retratando Arthur Lira dentro de uma lata de lixo. Queiram ou não, ele é presidente da Câmara. Foi demais.

Em entrevista coletiva na sexta-feira, 27, Lula admitiu, candidamente: “Eles (Centrão) têm mais de cem votos e eu precisava deles”. Corrigindo: precisava, não; precisa. Na “lata de lixo”, Lira suspendeu as votações de interesse do governo. Depois do anúncio de Carlos Antonio Vieira para a CEF, fez-se a luz. A pauta começou a andar.

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Foi assim que a Câmara aprovou a taxação de fundos especiais de investimento e de offshores, tão importante para um governo que se comprometeu com déficit zero em 2024, mas até Lula já admite que não dá, num típico sincericídio. É a pura verdade, mas chacoalha Bolsa e câmbio, irrita o Congresso e enfraquece o principal ministro, Fernando Haddad, além da confiança no próprio governo.

Nunca o Congresso esteve tão empoderado como depois de Bolsonaro dar, não apenas o “coração”, mas o governo, as decisões e o orçamento secreto para o Centrão. O resultado é que nenhum presidente escaparia da armadilha, mas para Lula ela é muito mais perigosa, ameaçadora, depois de mensalão, Lava Jato e prisão. Um fator decisivo para essa implosão foi o fatiamento da Petrobras entre partidos aliados e gulosos – inclusive o PP de Lira. Com esse fantasma rondando, qualquer denúncia de corrupção em estatal e banco público ganhará uma dimensão explosiva para Lula, governo e PT.

À chegada do Centrão à Caixa, some-se o esforço concentrado do governo, com a diligente mão amiga do ex-ministro do Supremo Ricardo Lewandowski, para alterar o estatuto da Petrobras e “flexibilizar” a entrada de políticos pela porta dos fundos da maior, mais rica e mais simbólica companhia brasileira. Um eventual escândalo na Caixa e na Petrobras vai cair direto no colo de Lula, que oscila nas pesquisas, ainda gera incertezas e não pode dar sorte para o azar. Todo cuidado é pouco. Mas o que fazer? Não dar a CEF para o Centrão e não aprovar mais nada no Congresso, ou dar e correr esse terrível risco? Uma escolha de Sofia.

PS: População mais feminina, governo mais masculino…

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e da GloboNews

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