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Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião | Braga Netto garantia o dinheiro e Cid transmitia as ordens à tropa. A mando de quem?

O próximo na hierarquia do golpe tem nome, cara e longo histórico antidemocrático

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Foto do author Eliane Cantanhêde
Atualização:

Mesmo após a conclusão das mais de 800 páginas do inquérito sobre a a tentativa de golpe de Estado durante o governo Jair Bolsonaro, a Polícia Federal e o Supremo trabalham numa nova frente de investigação: a origem do dinheiro usado para a articulação e a execução do plano. “Do agro”, “do PL”? O famoso “Follow the money” de Watergate e de grandes operações policiais contra poderosos.

Foi exatamente pelo foco no dinheiro que a PF ameaçou cancelar os benefícios da delação premiada, exigiu novos depoimentos do tenente coronel do Exército Mauro Cid e chegou ao “homem da mala”: o general de quatro estrelas Walter Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil e vice na chapa de Bolsonaro em 2022, que agora entra para a história como primeiro general preso pós-redemocratização.

O ajudante de ordem, Tenente Coronel, Cid (c), o então presidente da Republica, Jair Bolsonaro e o então ministro da Casa Civil, Braga Netto, em cerimônia no Planalto Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Cid fazia a conexão entre os golpistas e Bolsonaro, enquanto Braga Netto providenciava os recursos para “kids pretos” (das Forças Especiais do Exército) matarem o então presidente eleito Lula, seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro do STF Alexandre de Moraes, que presidia o TSE e neutralizou o esforço de Bolsonaro e dos golpistas para desacreditar as urnas eletrônicas.

No relatório já concluído da PF, a sequência é clara. Em 8 de novembro de 2022, mandantes e executores combinaram apresentar o plano operacional para prender ou matar Moraes. Em 9/11, esse plano, intitulado “punhal verde e amarelo”, ficou pronto, foi impresso no Planalto e levado ao Alvorada, onde estavam Bolsonaro e Cid. Em 12/11, os detalhes foram acertados por Cid e o major Rafael Martins de Oliveira com o general Walter Braga Netto, na casa deste. Do plano à ação.

Dois dias depois, 14/11, o major Oliveira perguntou a Cid: “Alguma novidade?”. Cid reagiu: “Eu que pergunto”. O major: “Vibração máxima! Recurso zero!”. E Cid: “Qual a estimativa de gastos? Falei para deixar comigo”. E Cid prometeu R$100 mil para despesas básicas da operação contra os três alvos.

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Agora, a PF vai adiante: Braga Neto providenciou o montante numa mala para vinhos. Depois de Cid, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, também voltou a depor. O dinheiro veio do PL ou “do agro”? E Bolsonaro com isso?

“Todos os caminhos levam a Roma”, todas as investigações levam a Bolsonaro, em nome de quem Mauro Cid dava ordens de comando à tropa do golpe e Braga Netto garantia o dinheiro para matar o presidente eleito, o vice e o presidente do TSE. Ele é o primeiro general preso pós redemocratização. O próximo na hierarquia do golpe tem nome, cara e longo histórico antidemocrático.

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e da GloboNews

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