Gato escaldado tem medo de água fria, mas o presidente Lula só leva isso a sério na política, talvez nem tanto na economia. As duas mudanças nítidas em relação aos dois primeiros mandatos é que Lula.3 mudou sua visão sobre a política e evoluiu na relação com o Congresso, mas titubeia e dá sinais de retrocesso na sua compreensão sobre o papel do Estado e os modelos de desenvolvimento.
Ao subir a rampa do Planalto pela terceira vez, o “novo Lula” tem sido impecável ao tentar evitar os erros políticos que lhe empurraram para o pântano do mensalão, com a compra no varejo de votos parlamentares, e o abismo do petrolão, com a compra no atacado de apoio de partidos. Este foi o foco da primeira reunião ministerial.
Ele ensinou aos 37 ministros, alguns mais à esquerda, outros novatos em Brasília, que não se pode “criminalizar” a política. O Congresso muda e os “300 picaretas” que Lula citava ficam (ou aumentam), mas tem de ouvir, prestigiar, fazer política, para não ter de comprar apoios e votos – o que, como Lula sabe, tem efeito bumerangue. Por isso, avisou: quem fizer “coisa errada” vai cair.
Ele disse que não tem vergonha de ter ministros políticos, não adianta diploma em Harvard sem apoio parlamentar e é proibido dar chá de cadeira nos deputados. “Não é o Lira que precisa de mim, é o governo que precisa da boa vontade da presidência da Câmara. Não é o Pacheco que precisa de mim, é o governo que precisa de um bom relacionamento com o Senado”.
Lula aprendeu, a duras penas, com o desdém pelo MDB no primeiro mandato, o “nojo” pelos outros partidos e a repulsa de Dilma Rousseff por Eduardo Cunha, que provocou o impeachment. “Eles não querem aliados, querem nos comprar. Têm nojo de nós”, me disse Roberto Jefferson, antes de denunciar o mensalão e iniciar sua ladeira abaixo na política e na vida rumo à loucura.
Em vez de demonizar, Lula.3 quer respeito pela política, os políticos, os partidos e o Congresso, essenciais para governar e vencer, e até porque nunca foi outra coisa senão político. Foi assim que ele conquistou uma frente ampla na campanha, é assim que constrói maioria no Congresso e é isso que ministros e puristas precisam compreender. Não é utopia, é democracia, pragmatismo e a chance de dar certo.
Se mudou tanto na política, Lula precisa cuidar da falta de sinais, ou dos sinais trocados na economia. Se ele se gaba do sucesso de seus mandatos no desenvolvimento, equilíbrio fiscal, relação com o setor privado e distribuição de renda, por que acenar com um retrocesso aos anos 1980, na fundação do PT e assumir os erros dos anos Dilma?
COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA
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