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Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião|Barroso defende ‘pacificação nacional’, mas quem está em guerra são os Três Poderes

Ao lado de Lula, novo presidente do STF afirmou que ‘um país não é feito de nós e eles’

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Foto do author Eliane Cantanhêde

O ministro Luís Roberto Barroso assumiu a Presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) pregando pacificação nacional e pluralismo de ideias, o que nos remete ao tiroteio entre Legislativo e Judiciário, com balas perdidas ameaçando o Executivo e suas pautas, principalmente econômicas. Quem, aliás, queria estar na pele do presidente Lula, a quem cabe sancionar ou vetar o projeto parlamentar do marco temporal das terras indígenas? Se vetar, briga com o Congresso. Se sancionar, confronta o Supremo.

Barroso acaba de pegar o bastão das mãos da ministra Rosa Weber e precisa se ajustar ao novo desafio. Lula opera o quadril nesta sexta-feira, passa um tempo internado e depois vai despachar em casa, ou melhor, no Palácio da Alvorada. E, no Congresso, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, estão a mil por hora, aliados às bancadas BBB (Boi, Bala e Bíblia) para provocar os outros Poderes, promover retrocessos e aprovar a PEC da Anistia, para livrar partidos e candidatos de multas eleitorais.

Luís Roberto Barroso fez discurso pregando que é preciso superar o "nós contra eles", ao lado do presidente Lula, de máscara como preparação para uma cirurgia Foto: Wilton Junior/Estadão

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O próprio projeto do marco temporal foi aprovado pelo Senado, numa sequência relâmpago de votações, logo depois do julgamento no Supremo que derrubara essa tese e, o pior, sem chance de vingar. Por que? Porque Lula pode vetar. Se não vetar, choverão ações questionando sua constitucionalidade. E essas ações irão justamente para o Supremo, que tem uma posição fechada contra.

Em seu discurso, Barroso foi Barroso, no seu tom habitual, hiper humanista, com coloração filosófica e pitadas de poesia. Mais do que de questões jurídicas, leis, capítulos e artigos, ele falou de valores, uma sociedade justa, igualdade e até afeto. “A afetividade é uma das energias mais poderosas do universo. O sentimento sincero de fraternidade e Pátria por todas as pessoas transforma o mundo”, pregou, admitindo que, para uns, soaria ingênuo. Soou mesmo, mas a ingenuidade, quando se confunde com o bem, pode ser muito bem-vinda.

Ao defender a pacificação, ele tocou em pontos que contrapõem esquerda e direita, racham o país ao meio e que ele taxou de “antagonismos artificialmente criados”: “o sucesso do agronegócio não é incompatível com proteção ambiental; o combate eficiente à criminalidade não é incompatível com o respeito aos direitos humanos; o enfrentamento à corrupção não é incompatível com o devido processo legal”.

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Leia-se: o novo presidente do Supremo é contra extremismos, radicalismos, gente e setores que acham que têm toda razão é que todos os demais não têm razão nenhuma. É preciso bom-senso, equilíbrio, humildade é saber o básico na convivência e nos avanços civilizatórios: saber ouvir e respeitar as diferenças.

Ao lado de Lula, que usou máscara todo o tempo, exceto na hora de tomar um cafezinho, Barroso tocou num ponto delicado, talvez por distração, talvez intencionalmente, ao dizer que “um país não é feito de nós e eles”. Ok. Isso foi levado ao extremo e até criminosamente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, mas não custa lembrar: quem começou com essa história de “nós contra eles” foi o PT, nos primeiros governos Lula. E, neste momento, o lema paira exatamente sobre os Três Poderes.

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e do telejornal GloboNews em Pauta

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