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Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião | Liberação de armas até para bandidos fecha círculo de vida ou morte da era Bolsonaro

Relatório do TCU divulgado pelo Estadão mostra como acesso às armas foi facilitado a criminosos

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Foto do author Eliane Cantanhêde
Atualização:

O raio X que o Tribunal de Contas da União (TCU) fez e o nosso Estadão divulgou sobre armas e munições em mãos de civis é estarrecedor e fecha um círculo de vida ou morte da era Jair Bolsonaro no Brasil: o relatório final da CPI da Pandemia de Covid, as investigações e provas da articulação de um golpe e, agora, o resultado detalhado da sua política pró armas. Covid, armas e ditaduras matam.

O então presidente Bolsonaro derrubou três portarias do Exército sobre monitoramento de armas e munições e lançou múltiplos projetos para um “liberou geral” de revólveres, fuzis, balas, usando os CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores) como canal e aval. Assim, o número de armas em mãos de civis disparou, de um lado, e o controle diminuiu, do outro. Conta altamente perigosa.

O ex-presidente Jair Bolsonaro em ato organizado na Paulista contra as investigações de que o político é alvo Foto: Andre Penner / AP

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O levantamento do TCU, obtido pelos repórteres Tácio Lorran e Vinícius Valfré, tem 139 páginas e mostra que 5.235 pessoas que cumprem pena registraram armas no Exército, entre eles, condenados por assassinato, tráfico de drogas, estupro. E, veja bem, 2.690 foragidos da polícia têm armas legais! Para “se defender”? São colecionadores? Sócios de clubes de tiro? Ou caçadores? Aliás, até onde a caça é legal no País?

Não se sabe exatamente por que a obsessão de Bolsonaro e seus filhos por revólveres e tiros, a ponto de o deputado Eduardo Bolsonaro ter um fuzil na sala de jantar e animar o chá de bebê da filha com disparos. A dúvida, inclusive na PF, é se o objetivo de armar civis, não tão “lúdico” era criar um núcleo civil armado no eventual golpe.

Essa fluidez entre vida e morte surge também no relatório final da CPI da Covid, de 1.279 páginas, pedindo o indiciamento de 78 pessoas e duas empresas e acusando o então presidente de nove crimes, desde prevaricação e epidemia com resultado morte até crimes de responsabilidade e contra a humanidade.

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Bolsonaro liderou contra máscara, isolamento social e vacinas e a favor do vírus, cloroquina e aglomeração, aliás, com viés golpista. Vídeos inesquecíveis: relação entre Aids e vacina de Covid, ele retirando a máscara de uma criança na rua e imitando na TV uma pessoa morrendo por falta de oxigênio em Manaus.

Além da ação na pandemia, de facilitar armas até para bandidos condenados e das ações por joias, atestados falsos de vacina e fakenews usando inquérito da PF, o que mais complica Bolsonaro é a articulação de um golpe contra as eleições, que ganha impulso com o depoimento do general Freire Gomes e do brigadeiro Batista Jr., ex-comandantes do Exército e da FAB, à PF. É o golpe que realmente pode levar o ex-presidente à prisão. O conjunto da obra, porém, pesa um bocado nesse processo.

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e do telejornal GloboNews em Pauta

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