O Ministério da Saúde do governo Jair Bolsonaro, em plena pandemia, embolou militares da ativa e da reserva com PM lotado a quilômetros de distância, pastor dito “humanitário”, empresas fajutas nacionais e internacionais, atravessadores picaretas, apadrinhados do líder do governo e do Centrão. De perder o fôlego. E isso dá em “rolo” na certa.
Se Bolsonaro foi longe demais ao irritar a sociedade, as Forças Armadas precisam agir para evitar o contágio enquanto é tempo, se ainda há tempo. Não é trivial um general da ativa e tantos coronéis e tenentes-coronéis, da ativa e da reserva, citados de forma nada dignificante, inclusive em encontros com gente de péssima reputação, representando empresas suspeitas e oferecendo vacinas a preços exorbitantes.
A lista de oficiais citados, liderada por Eduardo Pazuello, general da ativa, continua aumentando. Os dois novos, trazidos pela Rede Globo, com base em e-mails entre a Saúde e a tal “empresa” Davati, são: coronel Hélcio Bruno de Almeida, que participou de reuniões com um pastor dedicado subitamente ao ramo das vacinas, e um tal “coronel Guerra”, que se mete em negócios do ministério diretamente dos EUA.
Dos oito listados, dois já foram acomodados no Planalto, Pazuello e o coronel da reserva Elcio Franco. Dá para enfiar os outros seis lá? E, afinal, o que a Defesa, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica acham de tudo isso? Caiu ou não a ficha? Nenhum outro presidente fez tão mal às FA como o capitão insubordinado Jair Bolsonaro.
Com tantas certezas nesta vida, ele diz que não sabe nada do que acontece nos ministérios e, sempre tão falante, não diz absolutamente nada sobre a versão dos irmãos Luis Miranda, deputado federal, e Luis Ricardo Miranda, diretor de importação da Saúde: de que relataram a ele todo o “rolo” Covaxin – e ele, que nem pareceu surpreso, não fez nada.
Bolsonaro tem obsessões: acabar com a urna eletrônica e reinstaurar o voto impresso, que fazia a festa dos “coronéis” da política; armar toda a população civil; derrubar a floresta para “desenvolver” a Amazônia; tirar as reservas dos indígenas, que só querem “celular e internet”.
É uma enxurrada de ideias muito próprias, peculiares, chocantes, mas talvez fosse mais conveniente o presidente acompanhar o que ocorre não só na Saúde e no Meio Ambiente, mas em todos os ministérios. Ou seja, passar a governar, botar a mão na massa, porque a coisa está ficando feia para o lado dele.
A CPI da Covid está indo mais longe do que se imaginava, com depoimentos, dados e provas abundantes do descaso do presidente pela ciência e é impossível achar uma explicação razoável para o desprezo por Coronavac, Pfizer e Covax Facility em favor de Covaxin, Convidecia, Sputnik e a tal Davati, uma farsa.
À CPI, soma-se mais uma investigação no Supremo: além da acusação de Sergio Moro de intervenção política na Polícia Federal, agora a de três senadores de que ele prevaricou, ao desprezar a denúncia dos irmãos Miranda. Pior: depois convocou Pazuello para matar no peito, numa história sem pé nem cabeça.
A isso, acrescentem-se as investigações do Ministério Público e do TCU, os 124 pedidos de impeachment na mesa do presidente da Câmara, Arthur Lira, e as manifestações do “Fora, Bolsonaro”, em São Paulo, Rio, Brasília e todas as capitais. Teve quebra-quebra no fim? Esses vândalos têm cara, cheiro e jeito de infiltrados...
Se a semana passada acabou mal, esta já começa com os áudios da ex-cunhada de Bolsonaro, Andrea Siqueira Valle, no UOL, relatando como ele não apenas participava como tinha voz ativa nas “rachadinhas” dos gabinetes parlamentares da família. Pinga daqui, pinga dali, a sensação é de que o barco Bolsonaro faz água por todo lado.
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