O ex-presidente Lula já previa o resultado muito favorável a ele na pesquisa Datafolha, mas o presidente Jair Bolsonaro não tinha ideia das más notícias que estavam a caminho. Lula tem chance de vencer no primeiro turno e Bolsonaro, que parou de crescer, empacou com rejeição alta, nível de confiança baixo e pouca margem para reagir.
Lula já esperava bons dados porque Marcos Coimbra, do Vox Populi, tinha feito um cruzamento das diferentes pesquisas, com tendência favorável ao petista na intenção de voto geral e em praticamente todos os recortes: regional, gênero, rejeição… Bolsonaro, que insiste em pregar para convertidos, foi pego de surpresa. Os petistas ocuparam a internet nas 24 horas seguintes e os bolsonaristas, sempre ativos e agressivos, se recolheram. Não tinham o que dizer.
No cruzamento do Vox Populi, o petista só perdia em três pequenos Estados no Norte, mais Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal. E veio o Datafolha: em 2018, Bolsonaro ganhou do PT em todas as regiões, menos no Nordeste, e agora está perdendo em todas, exceto o Centro-Oeste, onde tem uma vantagem de apenas dois pontos.
No Sudeste, que reúne 43% do eleitorado nacional, está 42% a 29% a favor de Lula, com boa diferença em Minas. Diz a lenda, e a realidade confirma, que só se elege presidente quem ganha em Minas. E no Sul, com 15% dos eleitores do País, está 47% a 30% para Lula. Uma surpresa, que neutraliza uma debandada de MDB e PSDB para Bolsonaro.
O presidente não ouve ninguém e acha que seus grupos da internet são “o povo”. Não são. Primeiro, calou, cancelando, inclusive, a live da quinta-feira. Depois, articulou um ataque às pesquisas e botou a máquina para funcionar. Ou terão sido coincidências a bandeira verde para a energia e o corte de R$ 12 bilhões do orçamento para o aumento do funcionalismo?
Porém, a máquina, ou arsenal do governo, não faz milagre, ainda mais com inflação galopante. Dos que recebem o Auxílio Brasil, novo Bolsa Família, 59% apoiam Lula e só 20%, Bolsonaro. Estão com Lula, majoritariamente, as mulheres, os que ganham até 5 salários mínimos e os que têm até ensino fundamental, o grosso do eleitorado.
Para compensar, Bolsonaro teria de ter, por exemplo, grande margem entre os evangélicos, mas deu 39% para ele e 36% para Lula, e entre empresários, 56% a 23%. Parece muito, mas quase 1/4 do empresariado com Lula? Não é trivial.
Como efeito colateral, crescem a pressão sobre Ciro Gomes e a ameaça a Simone Tebet bem na decolagem. Agora, é esperar o ataque bolsonarista às pesquisas. O Planalto está trabalhando intensamente nisso.
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