O Brasil segue adernando à direita e chegou a hora de debater que direita é essa, ou quais as direitas que disputam hegemonia e o que elas representam e projetam para os dois anos restantes do governo Lula e o futuro. Atenção aos sinais, manifestações e trocas de desaforos no primeiro e já no segundo turno — lembrando que, na política, roupa suja não se lava em casa, como reclamaram os bolsonaristas após os ataques do pastor Silas Malafaia a Jair Bolsonaro. Na política, lava-se na mídia, nas redes e nos palanques.
Irritado com a covardia e o oportunismo do ex-presidente, que oscilou na campanha de São Paulo ao sabor dos ventos e das pesquisas, ora para Ricardo Nunes, ora para “aquele outro”, Malafaia distribuiu impropérios contra ele em várias entrevistas e deixou uma pergunta para a história na que deu para a jornalista Mônica Bergamo: “Que porcaria de líder é esse?”, Taí, excelente pergunta.
Registre-se também o muxoxo do 02, Carlos Bolsonaro, campeão de votos na sua sétima eleição para vereador no Rio: “Os votos do Nunes foram do meu pai, não do Tarcísio”. Passou recibo, soou como inveja, dor de cotovelo. E a turma do governador Tarcísio de Freitas adorou, claro, como reconhecimento à importância dele na ida de Nunes para o segundo do turno, no primeiro lugar.
O saldo do primeiro turno não apenas em São Paulo, mas no País inteiro, é cristalino: derrota da esquerda, ocaso do PSDB, fortalecimento do Centrão (leia-se direitão) e racha no bolsonarismo, entre radicais e pragmáticos. Apesar do barulho e da exposição daquele candidato esquisito na principal capital, Bolsonaro continua sendo líder dos radicais, mas passou a ter a real concorrência de Tarcísio, que vem sendo moldado como líder dos moderados.
Um bom teste é a guerra da Câmara contra o Supremo. Três dias depois do primeiro turno, a CCJ já aprovava duas propostas de emenda constitucional e dois projetos de lei para se autoconceder poderes, inclusive para derrubar decisões da mais alta Corte, o que é flagrantemente inconstitucional. O bombardeio começou como represália bolsonarista à firme resistência do tribunal a um golpe de Estado, ampliou-se para o resto da direita com o debate sobre marco temporal e descriminação de pequenas quantidades de maconha e do aborto até seis semanas e, enfim, uniu o Congresso quando o Supremo investiu contra a farra das emendas parlamentares.
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Se as eleições municipais praticamente escaparam da polarização nacional, ela volta com tudo no Congresso e se reflete agora nos ataques ao Supremo, com o bolsonarismo de um lado e o lulismo de outro; também tende a prevalecer nas eleições para as presidências da Câmara e Senado, em fevereiro.
A dúvida é como vota a tal “direita moderada”, particularmente a de Tarcísio, Gilberto Kassab e PSD, que se arvoram herdeiros do PSDB, contraponto ao radicalismo bolsonarista e a grande força política pós-Lula. Vai votar e aprovar a guerra contra o Supremo? Apostar numa crise constitucional?
Essa pergunta não tem resposta por ora: basta ver o pragmatismo do estrategista Kassab, que mantém um pé na canoa de Tarcísio e na centro-direita e outro na de Lula e da centro-esquerda. Quer saber? O mais provável é que dois terços do PSD votem a favor do Supremo e um terço contra. Ou seria o contrário?
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