Depois do mergulho nas pesquisas da semana passada, o Planalto enfim pescou a culpada pela queda da popularidade do presidente Lula: a inflação, particularmente dos alimentos. Assim, Lula se reuniu nesta quinta-feira com ministros e assessores ligados à questão, já preparando o script para as desculpas, broncas e anúncios da reunião ministerial da próxima segunda-feira. Mas será que é só isso? A inflação?
Ninguém gosta de comida mais cara e os segmentos que tiveram mais peso nos resultados preocupantes para Lula e o governo foram o Nordeste, sempre solidamente simpático ao PT, e as mulheres, que apoiaram majoritariamente Lula nas eleições de 2022. O curioso é que, de acordo com o Instituto Fome Zero, os brasileiros com fome caíram de 33 milhões para 20 milhões. A comida está mais cara, mas os mais pobres estão comendo mais por causa dos programas sociais?
Após essa primeira reunião - que teve até Fernando Haddad (Fazenda) -, os ministros Carlos Fávaro (Agricultura), e Paulo Teixeira, (Desenvolvimento Agrário) apontaram a culpa pela inflação de alimentos, que, por sua vez, é culpada pela queda nas pesquisas: foi o clima. Mas, segundo eles, a natureza vai ajudar e os preços vão cair. Tomara que não à custa de intervenção estatal, que nunca deu certo.
Por falar nisso, Lula não vem contribuindo para a queda de popularidade? O presidente da Petrobras, petista Jean Paulo Prates, admitiu, por escrito, que foi por orientação de Lula que a distribuição extraordinária de dividendos foi suspensa. “Orientação” de presidente em companhias como Vale e Petrobrás, tem outro nome, que o governo nega: ingerência política.
Depois de a Petrobras perder R$ 55 bilhões em valor de mercado num único dia, vem aí mais um safanão: investidores estrangeiros já retiraram R$ 23 bilhões da Bolsa neste ano. Não dá para por a culpa nas questões climáticas, na inflação, nos alimentos. Não seria efeito das tais “orientações” de Lula quanto a dividendos, a política de preços, a quem deve ou não presidir as empresas?
Na festa de aniversário de José Dirceu, um dos grandes líderes da história do PT, os cochichos eram sobre pesquisas, causas, falas fora de lugar e erros de Lula, com uma impressão: Lula está sem conselheiros com conhecimento e autoridade para lidar com ele – como, aliás, Dirceu já foi um dia. Detalhe: Haddad, apoiado por Dirceu, foi abraçá-lo; Gleisi Hoffmann, presidente do PT e criticada por Dirceu, não deu as caras. Já perto dos 80, Dirceu parece olhar mais para frente do que o Lula e o PT, que insistem em governar olhando para trás.
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