Depois de meses de golpes, chuvas e trovoadas, o presidente Lula teve uma super segunda-feira neste 5 de junho, Dia do Meio Ambiente. Desenrolou o Programa Desenrola, “repaginou” o plano dos “carros populares”, não tão populares assim, retomou o bom rumo da pauta ambiental e, “last, but not least”, mostrou que tem armas contra o presidente da Câmara, Arthur Lira, e deve ter comemorado a definição de uma data para o julgamento de Jair Bolsonaro.
Um personagem chave nesse dia foi o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que vai se firmando como o apagador mor de incêndios da República e teve papel importante ao reunir o vice Geraldo Alckmin, que é também ministro do Desenvolvimento, e a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, para desenrolar.... bem, desenrolar tudo.
Lançado de qualquer jeito, sem estudos, sem planejamento, o Plano dos “carros populares” começou como um tiro no pé, que desagradou a gregos e troianos, mas acabou como um programa sério, abrangente e útil, indo além de carros individuais para incluir ônibus e caminhões e, finalmente, agradando até aos ambientalistas. Aliás, Haddad chama a atenção para um detalhe: o lançamento atabalhoado foi no Dia da Indústria e o anúncio oficial, no Dia do Meio Ambiente. Não foi por acaso.
O Desenrola demorou, mas saiu. Em resumo, as famílias com renda até dois salários mínimos e com dívidas até R$ 5 mil poderão renegociar essas dívidas e limpar o nome; o credor, geralmente os grandes magazines, passa a ter chance, ou maiores chances, de receber; os bancos garantem o pagamento; e o governo entra como avalista. Se o devedor não quitar com os bancos, o governo cobre. Engenhoso, vamos convir. E ajuda a aquecer a economia.
Lula aproveitou o Dia do Meio Ambiente também para recolocar nos trilhos sua ação, seu discurso e sua relação com Marina Silva, com uma cerimônia no Planalto cheia de salamaleques para enaltecer a ministra do seu governo mais badalada no mundo. Dessa vez, foi para inglês ver.
Lula também mostrou as garras e as armas para Arthur Lira, com quem se encontrou na própria segunda-feira, ambos de cara amarrada. Se o presidente da Câmara tem forte comando no Congresso e vive ameaçando derrubar projetos do governo, Lula tem o Ministério da Justiça, a Polícia Federal e, na prática, os fatos.
E quem está desvendando esse enredo é o nosso Estadão, ao revelar o novo escândalo da praça: o dos kits de robótica. Também em resumo: a PF apreendeu R$ 4,4 milhões em dinheiro vivo com um assessor do PP de Lira, em Alagoas, Estado de Lira, que cuidava do programa alagoano; esse assessor e o funcionário do MEC metido nos desvios foram demitidos; e, nesta terça-feira, eis a manchete do Estadão: “Arthur Lira indicou R$ 33 milhões do orçamento secreto para kits de robótica investigados pela PF”.
Como a história “só se repete como farsa ou tragédia”, nem Lula nem Lira devem ter interesse em repetir a guerra sangrenta entre Dilma Rousseff e Eduardo Cunha, que derrubou os dois, um da Presidência da República e o outro, da presidência da Câmara.
Por fim, o TSE marcou para o dia 22 o julgamento da ação que pode tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível por 8 anos, depois daquela reunião absurda, escandalosa, em que ele despejou fake news contra as urnas eletrônicas para embaixadores estrangeiros. Como bem lembrou nossa colega Roseann Kennedy, pois não é que 22 é justamente o número do PL de Bolsonaro? Esse Alexandre de Moraes...
Agora, é preciso que Lula faça a sua parte. Como? Parando de falar bobagens, focando mais na gestão e dando ordem de comando na Esplanada dos Ministérios e particularmente no Palácio do Planalto. Afinal, Fernando Haddad tem mais o que fazer além de apagar um incêndio atrás do outro.
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