O governo Lula inverteu sua posição: se entrou em 2024 bem na economia e mal na política externa, começa 2025 titubeando na economia e firme na política externa, depois de uma atuação positiva e elogiada na presidência rotativa do G20, assumindo a presidência também rotativa dos Brics e se preparando para um evento que tem tudo a ver o Brasil, mas deixa um frio na barriga sobre como vai ser: a COP-30, em Belém do Pará.
Cá entre nós, os ditadores Nicolás Maduro, da Venezuela, e Daniel Ortega, da Nicarágua, quebraram o galho para o presidente Lula, por serem mal agradecidos, desdenharem do apoio do Brasil, ignorarem o desgaste que Lula teve ao defender dois regimes indefensáveis e, afinal, tomarem a iniciativa de virar a cara para o Brasil. Assim, em seu terceiro mandato, Lula se dispensou de fingir que a Venezuela é uma democracia e que não havia uma escalada da Nicarágua contra os direitos humanos, os cidadãos e até a Igreja Católica. O rompimento branco partiu de Maduro e de Ortega.
Depois de um 2023 arrogante, com a pretensão de acabar com a guerra entre Rússia e Ucrânia e salvar o mundo, Lula baixou o facho, parou de sinalizar uma aproximação arriscada com Rússia e China e de dar estocadas nos Estados Unidos e na Europa, as grandes democracias ocidentais. Em 2024, viajou e falou menos de política externa e deixou o Itamaraty trabalhar. Funcionou bem. As reuniões técnicas do G20 sob a presidência brasileira foram bem e a Cúpula de presidentes, no Rio, com Joe Biden e Xi Jin Ping, foi um sucesso, com um documento final obtido por consenso e sem “incidentes” no conflagrado Rio. Um alívio!
Em 2025, vem aí o fator Donald Trump, que assume o segundo mandato em 20 de janeiro, com o Brasil na presidência dos Brics. O Brasil vai ter de se equilibrar entre a guerra de poder entre EUA, de um lado, e China e Rússia, de outro. Lembrando que o bloco foi criado como contraponto a um “mundo unipolar” (logo, aos EUA), está sendo ampliado com países como Cuba, Egito, Emirados Árabes, não exatamente democráticos, e está focado na troca do dólar como moeda intrabloco.
A percepção é que os Brics estão se tornando alavanca para as pretensões hegemônicas da China, com o Brasil no fio da navalha. É torcer, e cobrar, que a diplomacia profissional assuma novamente o comando, deixando em segundo plano as crenças ideológicas do presidente Lula e seu assessor internacional, Celso Amorim. De toda forma, a pauta dos Brics é consistente, centrada na sustentabilidade ambiental aliada à igualdade social e, de certa forma, antecipando o foco da COP-30.
Nos dois casos, Brics e COP, o Brasil poderá ser anfitrião mais uma vez de grandes líderes internacionais, inclusive Xi Jin Ping. Como os EUA monitoram esses movimentos? Disso dependem as relações, nada promissoras, entre Lula e Trump.
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