O sequestro violento da líder oposicionista Maria Corina Machado, de véspera, aumenta o temor de um banho de sangue na Venezuela, quando o ditador Nicolás Maduro tomar posse para um novo mandato presidencial, nesta sexta-feira,9, sem jamais mostrar as atas eleitorais ou qualquer prova de que tenha vencido a eleição. Pelo contrário, quem mostrou atas e comprovou a vitória foi a oposição.
Assim como Maduro bate pé e insiste em assumir, a oposição não desiste, nem deve, de questionar e resistir. O confronto entre os dois lados sai hoje da esfera política e do âmbito das lideranças e vai parar nas ruas de Caracas e das grandes cidades venezuelanas, sob os holofotes e debaixo da desaprovação da comunidade internacional, principalmente na América do Sul. Maduro está isolado.
Numa entrevista exclusiva pra mim, em 1999, logo após sua primeira posse, o padrinho e mentor de Maduro, Hugo Chavez, previu grandes ondas de protestos em toda a América Latina para resistir contra a desigualdade social e a política econômica que ele chamava de neoliberal e se espalhava pela região. As piores crises e as manifestações mais fortes, porém, foram se repetindo na própria Venezuela.
Para o bem ou para o mal, e apesar dos pesares, Hugo Chavez tinha projeto, estratégia, real liderança e cometeu o erro de todos os ditadores, de direita ou esquerda: imaginar-se eterno, não suportar competição e divergência, ser incapaz de preparar seu sucessor. Mesmo com um câncer incurável e rápido, Chavez deixou para a última hora a benção para Maduro, seu chanceler, totalmente inapto para o desafio. Deu no que deu.
Ex-caminhoneiro, Maduro conduzia a política externa nos governos Chavez, passou a dirigir os próprios rumos da Venezuela e levou o país para o desastre, o precipício, com combinação maligna: os defeitos de Chavez, sem as qualidades dele. Tosco, grosseiro, sem limites, Maduro subjugou as instituições, comprou as Forças Armadas a peso de corrupção e manipulou boa parte da população ao dominar a mídia e vender ilusões. A outra parte fugiu da Venezuela, da ditadura e da desgraça.
Até fazia sentido a aproximação de Fernando Henrique e depois de Lula com Chavez, que virou de costas para os EUA e de frente para a América do Sul. Olhar para o Sul é olhar para o Brasil, suas indústrias, sua agricultura seu imenso mercado. Mas foi um absurdo Lula ignorar a tragédia venezuelana e abrir o terceiro mandato com salamaleques para o ditador. Como foi um escândalo o PT “reconhecer” a vitória de Maduro numa eleição flagrantemente fraudada. E agora, José? Como agirá o Brasil se confirmado o banho de sangue na posse?