Quando surge algum problema no governo, grita-se: “Chama o Dino!”. Quando aparece uma suspeita, clama-se: “Chama a PF!” E é assim que o Ministério da Justiça foi se transformando na “UTI da Esplanada” e a Polícia Federal, com Andrei Passos, há muito tempo não é tão ativa. Ministério e PF estão em todas.
É improvável a ida de Flávio Dino para o Supremo. O que ele lucraria com isso? E Lula e o governo? Ok, pode-se dizer que o PT tiraria um adversário da frente em 2026, mas ir para o Supremo não significa evaporar e o mais provável é Dino concorrer à Presidência em 2030, aos 62 anos.
Ele tem muitas frentes de trabalho e “dá Ibope”. As investigações sobre o assassinato de Marielle e Anderson avançam, as peripécias de Jair Bolsonaro e bolsonaristas continuam vindo à tona, os peixes miúdos e graúdos do 8 de janeiro estão na rede, o pacote das armas saiu, a operação no território Yanomami veio para ficar.
Dos anexos da delação premiada de Élcio Queiroz, que dirigia o carro no assassinato de Marielle e Anderson, só foi divulgado um, o número 2, sobre o dia do crime, os demais continuam em sigilo. Por que conduzem aos mandantes e aos motivos? Queiroz faria delação sem contar? Só falta a delação do próprio Lessa e a solução do crime sai até dezembro.
Também as investigações sobre o governo Bolsonaro avançam. Segundo o Coaf, o tenente coronel Mauro Cid movimentou R$ 3,7 milhões em dez meses e ele já responde por saques para Michele Bolsonaro, atestados falsos de vacina, joias das Arábias, vazamento de inquérito da PF, minuta golpista. O sargento Luiz Marcos dos Reis, seu braço-direito, é personagem chave do esquema.
Além disso, o bolsonarista AIlan Frutuozo da Silva acaba de ser preso pela tentativa de invasão da PF, o russo Sergei Cherkasov é pivô da investigação sobre espiões que usavam documentos falsos do Brasil, a história dos ataques ao ministro Alexandre de Moraes em Roma está bem amarrada, as operações contra garimpeiros ilegais e tráfico de drogas estão a mil.
E a PF “rouba” atribuições do Exército, como monitoramento de armas com civis e a segurança de autoridades. As armas dispararam com Bolsonaro, mas a fiscalização sumiu, isso vai mudar. E Lula foi salomônico quanto à sua segurança: militares e policiais, meio a meio. Não desagrada a ninguém e um vigia o outro.
Lula também quer entrar na questão da Cracolândia, em São Paulo, mas isso implica competição, política, ideologia. Dino tentou, mas o prefeito Ricardo Nunes se “bolsonarizou” e não quer dar holofotes para Lula e Dino. Moradores, visitantes e usuários de drogas é que saem perdendo.
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