Ausente no lançamento oficial de sua própria candidatura pelo PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a estrela e fez o discurso contundente na convenção do PSB que formalizou, nesta sexta-feira, 29, o nome do ex-tucano e ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin como vice em sua chapa, justamente quando a principal estratégia da campanha petista é buscar o voto útil de líderes e eleitores do ex-PSDB de Alckmin e do MDB, Cidadania, Avante, União Brasil e PSD, sem contar o PDT.
Se Ciro Gomes (PDT) é o mais duro na queda, os candidatos do Avante, André Janones, e do União Brasil, Luciano Bivar, estão com um pé no barco de Lula contra o presidente Jair Bolsonaro, que disputa a reeleição. Gilberto Kassab, manda-chuva do PSD, já está nesse barco desde o início, sem alardear, e Lula também tem sólidos apoios no PSDB e no MDB, o que pode deixar o Cidadania sem alternativa.
Lula sendo Lula, bradou que os moradores de rua “tratam melhor dos seus cachorros do que o Estado brasileiro cuida deles mesmos”, defendeu “amor, carinho, generosidade” e aprofundou as comparações entre ele e Bolsonaro e entre os dois governos, conclamando os aliados a irem para a rua, mas advertindo que não quer uma campanha de ódio e dando uma ordem: “não vamos aceitar provocações”.
Segundo Lula, Bolsonaro não visitou uma só família vítima de covid, um único órfão, assim como não se reuniu com centrais sindicais, reitores, professores. E, apesar de o lançamento ser da chapa Lula-Alckmin, ou Lula-chuchu (apelido do ex-governador), e de ele ter elogiado os empresários que lideram o manifesto pela democracia, com mais de 400 mil assinaturas, Lula deixou claro que vai governar para os pobres e criará um ministério dos Povos Indígenas, com um ministro indígena.
Se Lula foi Lula, Alckmin foi Alckmin: comedido, sem estridência, definiu a convenção como “a confraternização da esperança no futuro” e bradou: “a esperança é Lula!”. Também descarregou as baterias contra o atual presidente, dizendo que “é hora de Bolsonaro ir embora para casa pelo mal que fez ao País” e atribuindo a ele “barbaridades, erros, desastres, mentiras e um plano ardiloso contra a democracia, que fracassou”.
A improvável aliança Lula-Alckmin é o principal movimento político das eleições de 2022 e consolida a determinação de Lula de ampliar sua campanha para além do PT e das esquerdas e assim garantir desde cedo um grande leque de forças políticas para ter governabilidade e estabilidade em seu eventual governo a partir de 2023.
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