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Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião|Haddad é muitíssimo diferente de Guedes, mas também pronto a engolir sapos

Como na canção, ‘foi bonita a festa, pá, mas é preciso navegar, navegar’

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Foto do author Eliane Cantanhêde

Passada a festa, com o presidente Lula empossado, o ex-presidente Bolsonaro curtindo Orlando e os golpistas de volta para casa, o governo começa já com forte queda do mercado nesta segunda-feira. Não é um grito a ser desprezado, porque não é exclusivo do mercado, vilão para todos os gostos.

Já na posse, Lula sinalizou que o velho Lula e o velho PT estão de volta, com seu amor pelo Estado lento e obeso e a crendice de que é assim que se produz desenvolvimento, bem-estar e igualdade. Há controvérsias. Não apenas o mercado, mas também o setor produtivo, economistas, jornalistas da área econômica e especialistas de diferentes áreas discordam.

Já na posse, Lula sinalizou que o velho Lula e o velho PT estão de volta, com seu amor pelo Estado lento e obeso e a crendice de que é assim que se produz desenvolvimento, bem-estar e igualdade. Foto: Wilton Junior/Estadão

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Em discursos, Lula fez o esperado apelo à alma nacional contra fome e desigualdade. Assim como a defesa da responsabilidade fiscal não é exclusividade do mercado, a defesa dos miseráveis e da diversidade e dos milhões de famílias na rua da amargura, sem emprego, casa e comida, não é exclusividade de Lula. Mas ninguém com mais autoridade do que ele para verbalizá-la.

O complicado é equilibrar o justo combate à injustiça social e o correto equilíbrio das contas públicas. É bem mais fácil falar da miséria com compaixão do que convencer que quem paga o pato de promessas e gastos a rodo são os miseráveis. Um dilema ainda mais velho que Lula e o PT é o conflito nos governos entre o que é popular (político/populista) e o que é preciso (pragmático/técnico).

Ao assumir, Haddad fez um discurso morno, cuidadoso, avisando que não seria “um posto Ipiranga” e teria “vários postos”. Veio à mente o seu antecessor, Paulo Guedes, que começou como superministro e perdeu, uma a uma, as grandes guerras com Centrão, generais e filhos de Bolsonaro.

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Em 2018, Guedes foi conveniente para dar falsos ares de liberalismo e abertura econômica a um capitão insubordinado, corporativista e nacionalista a la anos 1950. Já Haddad pensa igual e joga o mesmo jogo de Lula. Em comum nas duas duplas é que Haddad, como Guedes, está pronto para engolir sapos. Aliás, começou já no dia da posse, desautorizado na desoneração dos combustíveis.

Haddad não faz questão de fingir que veio para fazer tudo que seu mestre mandar. O quê? O que está nos discursos de posse, quando Lula acusou o teto de gastos de “estupidez”, não falou em nova âncora fiscal, mirou a reforma trabalhista e já atirou nas privatizações. “Revogaço” na política de armas e na segurança, saúde, educação, ambiente, cultura, política externa... é saudável, um alívio. Mas na economia, sem consenso, em medidas desde Michel Temer? Como na canção, “foi bonita a festa, pá, mas é preciso navegar, navegar...”

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e do telejornal GloboNews em Pauta

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