O presidente Lula bateu o martelo: a próxima reunião ministerial será na segunda-feira, 18/3, e por mais que o governo vá dizer que isso já estava na agenda havia tempos, a verdade é que a luz amarela finalmente acendeu no Palácio do Planalto e no gabinete presidencial depois das três últimas pesquisas e de praticamente todas as colunas de opinião no fim de semana.
Lula ainda não tinha estudado profundamente as pesquisas até ontem, como deveria, mas a equipe do ministro Alexandre Padilha, da Articulação Política, vem passando um pente fino nos dados para identificar as áreas mais frágeis e os segmentos mais refratários e se reuniu ontem, já no fim da tarde, para produzir relatório para Lula. Ele tem uma semana para tirar conclusões, avaliar os recados e se preparar para a reunião de segunda-feira.
Não está previsto o presidente discutindo golpes, militares dizendo que o golpe tem de ser já, ministros defendendo a prisão de ministros do Supremo e de governadores ou sugerindo “passar a boiada” na Amazônia ou qualquer outro magnífico bioma brasileiro. Isso é coisa do governo passado. E o que o atual tem que, obrigatoriamente, discutir?
O principal é fazer mea culpa, mas isso vale mais para o próprio presidente do que para seus ministros, ou para a maioria deles. Afinal, a queda nas pesquisas e as críticas dos chamados formadores de opinião se devem muito mais às frases equivocadas, às posições antiquadas e às alianças internacionais sem sentido de Lula. Ok, a inflação dos alimentos pesa, mas não é determinante no aumento de desaprovação em vários segmentos, inclusive nos tradicionalmente favoráveis a ele e ao PT.
Leia também
Nas últimas reuniões, Lula deu bronca nos ministros por falarem demais e anunciarem projetos ainda em discussão, sem combinar e acertar com o chefe da Casa Civil, Rui Costa, e causando uma confusão danada. Os alvos do puxão de orelhas foram ministros como Márcio França, Carlos Luppi e Luiz Marinho. E agora, quem vai dar bronca e puxar as orelhas de Lula?
Fernando Haddad vai pedir para Lula parar de anunciar gastos e de derrubar a promessa de déficit zero? Nísia Trindade vai cobrar a cara, a voz e o peso de Lula quando os casos de dengue atingem mais de 1,5 milhão de brasileiros? O chanceler Mauro Vieira vai reclamar de megalomania, da tentativa natimorta de negociação nas guerras contra a Ucrânia e Gaza e na comparação de Israel com Hitler e nazismo?
E quem vai resolver a crise entre o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e apontar o dedo para o presidente para protestar contra a redução da distribuição de dividendos da Petrobrás, a tentativa de impor Guido Mantega na presidência da Vale e a ingerência política nas estatais? Afinal, foram fatores decisivos para a Petrobras perder R$ 55 bilhões em valor de mercado num único dia, demolindo outros resultados positivos, como o segundo maior lucro da história da companhia, sem venda de nenhum ativo. É a mania de jogar fora as boas notícias e apostar nas ruins.
Entre tanto o que aprender e melhorar com as pesquisas, só falta agora Lula ignorar a realidade, dar de ombros e fazer ouvidos moucos para os recados da sociedade. Quando as mortes por Covid passaram de 5.000, Jair Bolsonaro reagiu: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?’. Quando entidades de Direitos Humanos denunciaram na ONU as, agora, 40 mortes em ações policiais na Baixada Santista, o governador Tarcísio de Freitas foi na mesma linha: “Pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta, que não tô nem aí”. E Lula, como reage às pesquisas, às críticas e à realidade?
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.