O presidente Lula avisa que trocou de “obsessão”. No início deste terceiro mandato, ele só pensava em recuperar os programas sociais que são a marca do PT. A partir de agora, toda sua atenção está voltada para o crescimento do País, com “indução do Estado”, crédito, foco no setor automotivo e três palavras mágicas: estabilidade, credibilidade e previsibilidade. E se comprometeu: “Não vamos brincar com a economia”.
Lula, porém, disse, desdisse e disse de novo que quer mexer na meta de inflação, confundindo os jornalistas que estiveram ontem no café da manhã com ele no Planalto. Depois de dizer que, “se a meta de inflação é errada, mude-se”, ressalvou que “isso é coisa do Banco Central”.
O fato é que ele continuou batendo nos juros altos e avisando que, depois da viagem à China, vai discutir a questão, sim, senhor, sim, senhora. Deu a entender, enfim, que não vai descansar enquanto não baixar os juros, mas foi cauteloso ao reconhecer que, goste ou não, o presidente do BC tem mandato de dois anos.
Também deixou claro que, em algum momento, de alguma forma, vai se meter também na política de preços da Petrobras: “O Brasil não tem por que estar submetido aos preços internacionais, mas isso é um problema que nós vamos discutir num momento certo, quando o presidente da República decidir”, disse chamando de “extemporâneas” as declarações do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sobre combustíveis.
Em resumo, Lula disse que: não vai revogar a reforma do ensino médio, “só aperfeiçoá-la”; fará uma reunião com patrões e sindicatos do setor automotivo, que passa por uma série crise; encomendou pesquisa sobre as palafitas no Brasil; não tem pressa para escolher ministros do Supremo nem compromisso de escolher uma mulher ou um negro.
Às vésperas de ir à China, no dia 11, Lula confirmou que vai tratar da guerra da Rússia e Ucrânia com o presidente Xi Jinping e deu pistas sobre as articulações para um “Clube da Paz”: elas passam obrigatoriamente pela China e deverão incluir, além de EUA e Europa, países como Indonésia e Índia. Mais: tanto o russo Putin tem de abrir mão de anexar territórios quanto o ucraniano Zelenski, de desistir da Otan nas fronteiras russas.
Se passou de programas sociais a crescimento, uma terceira “obsessão” Lula foi obrigado a abandonar: pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-juiz Sérgio Moro, a quem ele se referiu como “o coiso e a coisa”. Será que ele aguenta? Lula estava bem falante e se comprometeu com algo importante: acesso da mídia a ele e ao governo. Que continue assim!
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