“Chegou o tempo de curar as feridas. Chegou o tempo de preencher as lacunas que nos separam. Chegou o tempo de construir.” O discurso de Nelson Mandela, ao assumir a África do Sul, em 10 de maio de 1994, após 27 anos de cárcere, foi prestigiado por líderes de todos os continentes em Pretória e marcou não só uma nova era no país, mas no mundo.
Brasil não é África do Sul, o racismo é parte dos muitos problemas estruturais brasileiros e Jair Bolsonaro representa o oposto do que Frederik Willem de Klerk significou na fantástica transição do país. Bolsonaro destruiu e devastou. De Klerk, antecessor de Mandela, trabalhou pela união, reconstrução e reinserção sul-africana no mundo.
Apesar das diferenças, há coincidências. Lula tem origem na parte oprimida da sociedade e saiu da prisão para a vitória e pregou união, igualdade, diversidade, reconstrução e o fim de um Brasil pária internacional. Tem responsabilidade imensa com o Brasil, os brasileiros e sua própria história. No 1.º mandato, dizia que não tinha o direito de errar. No 3.º, definitivamente, não tem. Seria a volta do ódio, isolamento, descaso com os mais pobres, ambiente, indígenas.
É por isso, e pelo 8/1, que tantos amenizam as críticas e focam no lado bom de Lula 3, a reinclusão do Brasil no mundo, a ação firme pró-Yanomami, programas de moradia, bolsas de estudo, cultura, educação, vacinação. O governo não completou nem cem dias, consumiu um bom tempo na defesa da democracia e no balanço de uma herança efetivamente maldita. Em 2003, era marketing. Em 2023, é a mais pura verdade. Logo, Lula ainda está no que há décadas se combinou chamar de “lua de mel” para presidentes que se instalam. No caso dele, com muito mais razão.
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Isso não dura para sempre. Por isso, Lula lança programas de grande alcance social, vai pessoalmente e envia uma penca de ministros para acudir o litoral paulista, já visitou Argentina, Uruguai e EUA, vai à China, dialoga com líderes de França, Alemanha, UE e vai conversar com os de Rússia e Ucrânia.
Não pode, porém, ignorar a tragédia na Nicarágua, passar a imagem de estar sempre no ataque, confrontando BC, ricos, adversários e embaçar a importante mobilização de ontem, com governador e prefeito, usando discurso mal-humorado e fora de tom. Ele, como seus críticos, precisa baixar a guarda, porque os inimigos da Nação estão à espreita. Como dizia Mandela, é tempo de curar feridas, preencher lacunas e construir. Lulinha paz e amor faz falta.
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