Quem procura acha. A Polícia Federal usou um aparelho israelense de última geração para encontrar o que sabia que encontraria no celular do ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, o tenente-coronel da ativa Mauro Cid: mais evidências e provas da tentativa de golpe, escondidas nas nuvens da internet. As que havia já eram suficientes, mas as novas, guardadas a sete chaves, reforçam o inquérito e complicam ainda mais os envolvidos.
Bolsonaro manteve as andanças e os atos pelo País, para segurar apoio popular, mas perde substância política, sai da eleição municipal com adversários consistentes dentro do seu próprio grupo e, além de inelegível, vai passar por poucas e boas na Justiça. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, deu mais 60 dias para as investigações da PF, que depois serão analisadas pela PGR e, mais cedo ou mais tarde, vão parar no Supremo em 2025. Barbas de molho…
Na outra ponta, o tombo no banheiro, os pontos e o início de hemorragia cerebral livraram o presidente Lula tanto de saias justas e erros nos Brics como da reta final da eleição. Lula não vai para o último ato de campanha de Guilherme Boulos (PSOL) no sábado, nem vai votar em São Bernardo no domingo. É seu aniversário de 79 anos e ele não é mais obrigado a votar.
Triste fim de Bolsonaro e Lula na campanha deste ano. O PL conseguiu se “infiltrar” no Nordeste lulista, mas o ex-presidente não tem mais o comando único do bolsonarismo. Ao insistir toda hora em dizer que será candidato em 2026, acusa o golpe. Inelegível, de cara com os julgamentos no STF? Muito difícil.
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E Lula, grande ausente da eleição de 2024, como chegará a 2026, física, emocional, política e eleitoralmente? E o seu governo? Um sucesso, ou nem tanto? São apenas dois anos após uma eleição que expôs a debilidade da esquerda e deixou o PT em segundo plano dentro da própria esquerda, todos batendo cabeça.
Entre tantas outras, uma grande diferença entre o atual e o antigo presidente, sob o ponto de vista político-eleitoral, é que o bolsonarismo continua forte, vai além do PL e do próprio Bolsonaro, atrai com mais facilidade o Centrão, ou “direitão”, e tem alternativas a Bolsonaro.
Já o lulismo respira e se alimenta de Lula. E o PT sem ele? Se não for candidato em 2026 — o que divide opiniões, mas parece cada vez mais provável —, quem será o nome petista? Fernando Haddad, o mais óbvio, terá apoio dos partidos que têm ministérios no governo Lula, como PP, PSD, MDB…? E do próprio PT? Tudo isso reforça o recado das urnas de 2024: a polarização Lula x Bolsonaro foi intensa, mas parece ter vida curta.
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