Não há dúvidas de que o governo tem muito o que mostrar em várias áreas, principalmente na economia e na social, mas é impressionante a capacidade do presidente Lula de dar munição para a oposição, em particular para seu maior adversário, Jair Bolsonaro. Os casos se acumulam, inacreditavelmente, deixando a sensação de que, no seu terceiro mandato, Lula está se sentindo acima do bem e do mal, imunizado contra críticas e liberado para cometer erros à vontade.
Por que raios Lula esperou nove dias para se manifestar sobre o indiciamento do ministro Juscelino Filho (Comunicações) pela PF, por corrupção passiva, fraude em licitações e organização criminosa? Depois de todo esse tempo, apareceu num evento ao lado do ministro como se nada tivesse acontecido, disse que tem “muito orgulho” da sua equipe e está “feliz” com Juscelino, alvo de uma lista extensa de suspeitas desde o primeiro mês de governo. Lula, assim, aguarda a PGR e o STF para acordar e ver o óbvio. O que fará, então?
Por que raios Lula tinha também de se vacinar contra dengue, num hospital privado, cinco dias antes de o SUS iniciar distribuição pública de doses, insuficientes por falta de produção nacional e pouca internacional? Tanto ele sabia que ia dar pano pra manga que fez... secretamente! O que era ruim ficou pior ainda e numa área em que é fácil confrontar o antecessor: vacina. Levantou a bola, Bolsonaro cortou: “Se vacinou escondido... O povo que se dane”, postou nas redes sociais, como quem tivesse autoridade para entrar nesse jogo.
Por que raios Lula tinha, ainda, de autorizar a importação de muitas toneladas de arroz, apesar de dados informando que o grosso da safra já tinha sido colhido e a tragédia do Rio Grande do Sul teria pouca repercussão no abastecimento? E deixar incluir logotipos e a propaganda do governo em letras vermelhas nos sacos importados, num oportunismo político explícito? E descuidar da licitação, que, depois do saco derramado, ele agora admite que foi contaminada por “falcatrua”? O resultado é faz-não-faz, vai-e-volta. Bom, não é. A equipe da qual tem tanto “orgulho” falhou.
Por que raios, mais uma vez, Lula tinha de descumprir a lei, fazer discurso de campanha e pedir voto para seu candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, num evento de Primeiro de Maio? Bateu, levou: uma multa da Justiça Eleitoral por campanha antecipada. De quebra, Boulos também foi multado. E a semana acaba com o presidente enfrentando universidades e reitores em greve: “O dedo que falta não foram eles que morderam!”.
Bem, e por que, raios, Lula tem de insistir em mandar no Banco Central, que é autônomo, e de se intrometer politicamente na Petrobras? E continuar sendo tão amiguinho de Vladimir Putin, tratar Nicolás Maduro e seus métodos como legítimos e democráticos e fechar os olhos para as atrocidades de Daniel Ortega? Política externa independente e pragmática faz bem à saúde dos regimes, sejam de esquerda ou direita, mas posições condescendentes com ditaduras cruéis fazem mal aos governantes, dentro e fora de seus países.
Tão bom orador e tão carismático, Lula também abusa de brincadeiras e palavras fora de hora e lugar, envolvendo gênero, raça, grupos LGBTQI+. E, depois dos anos sombrios de Bolsonaro na cultura, acaba de anunciar investimentos de R$ 1,6 bilhão no audiovisual, numa cerimônia alegre e cheia de estrelas, mas borrou a repercussão ao dizer que “artista, cinema e teatro não são para ensinar putaria”. Gafe ou tentativa de falar para o público conservador, em especial o evangélico? Afinal, por que raios usar uma frase de mau gosto, que só reforça um velho preconceito contra a cultura? Se alguém achou o maior barato, só pode ser de oposição.
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