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Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião | Saíram os generais e entraram os petistas, mas a guerra continua no Planalto, com Haddad na mira

Guerra interna do PT foi transportada ao centro do governo Lula, com bombardeio a Fernando Haddad e José Múcio

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Foto do author Eliane Cantanhêde

Assim como todos os ministros do Planalto no governo Jair Bolsonaro foram militares, até a chegada do líder do Centrão, Ciro Nogueira, na Casa Civil, todos os do governo Lula são de um único partido, o PT. O que isso significa? Uma bolha de pensamento único, sem controvérsias reais e suscetível a disputas pelo poder e pelas graças do presidente de plantão.

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No caso de Bolsonaro, com uma peculiaridade: eram todos generais, batendo continência e fazendo reverências ao capitão insubordinado. No de Lula, as idiossincrasias e a velha e cansativa guerra interna do PT foram transportadas para o centro de poder e de decisões, com uma consequência que, além de um tanto absurda, é nefasta para o governo: gabinetes do Planalto se unem à cúpula do PT para bombardear ou minar os dois principais ministros do governo.

Alguém consegue entender por que, e com que intenção, petistas de fora e de dentro do Planalto, alem de não ajudar, atrapalham esses ministros, que estão onde estão pela decantada inteligência política de Lula? São eles Fernando Haddad (Fazenda), petista, ex-candidato à Presidência pelo partido e responsável pelos maiores troféus do governo em 2023, e José Múcio (Defesa), que vem da direita, foi articulador político no segundo mandato de Lula e hoje é considerado o engenheiro certo, na hora certa e no lugar certo para construir pontes com os militares.

Os ministros José Múcio, da Defesa, e Fernando Haddad, da Fazenda, são alvos de bombardeio de aliados dentro do governo Lula Foto: Wilton Junior/Estadão

O chefe da Casa Civil, Rui Costa, reverbera nos bastidores dos palácios (e nos ouvidos de Lula) as críticas que o PT faz abertamente à política econômica conduzida por Haddad, considerada “neoliberal” por eles, mas aplaudida por gregos e troianos – e não apenas pelo mundo financeiro e o “mercado” – como o maior sucesso do primeiro ano do terceiro mandato. Enquanto Lula dava sinais confusos e preocupantes na política externa, por exemplo, e os ministros Carlos Lupi (Previdência) e Luiz Marinho (Trabalho) ameaçavam desfazer as reformas previdenciária e trabalhista (já imaginaram?), Haddad aprovava com as cúpulas do Congresso o arcabouço fiscal e a reforma tributária e entregava boas surpresas no PIB, emprego, dólar, Bolsa, inflação e, indiretamente, ou consequentemente, juros.

Além de Rui Costa, do PT da Bahia, e da própria primeira dama, Janja, Lula está cercado no Planalto pelos petistas Alexandre Padilha, de São Paulo, em guerra com o presidente da Câmara, Arthur Lira; Paulo Pimenta, da Comunicação, que acumula desafetos no governo e no partido; Márcio Macedo, da Secretaria Geral, a quem Lula e toda sua entourage acusam pelo fiasco monumental que foi o Primeiro de Maio em São Paulo, sem gente, sem apelo, sem emoção e sem cara. Como ele é responsável pelo diálogo com as Centrais Sindicais, tem lá sua culpa, mas será mesmo que só ele?

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De todos, o que parece mais equilibrado, menos beligerante, é justamente Padilha, que talvez esteja batendo de frente com Lira pelas próprias qualidades, não por seus defeitos, e tem sido um aliado discreto, mas efetivo, de Haddad. Pode-se dizer, das boas causas, como menos interferência na Vale e na Petrobrás, na liberação (antes tarde do que nunca) dos dividendos extraordinários da companhia, e principalmente numa política econômica pragmática, de resultados, olhando para frente, não para trás – como o PT e Lula.

A pior coisa que Lula pode fazer, contra ele próprio e o seu governo, é fazer vista grossa e, pior ainda, assumir em público ataques e provocações de ministros e parlamentares petistas contra Haddad e José Múcio. A autonomia e a blindagem de Múcio são muito maiores e ele está mais livre para pegar o boné quando lhe der na telha. Ele teria pouco a perder, mas talvez Lula perdesse muito.

Já Haddad é da “casa”, um “filho” para Lula, que se sente à vontade para desautorizá-lo em público, deixar evidente as discordâncias, defender gastos e desdenhar do controle fiscal. É mais complicado para Haddad jogar tudo para o alto. Por ele, por eventuais ambições políticas, pelo desafio de entregar bons resultados na economia, pela responsabilidade com o País e o próprio PT e, claro, por lealdade, gratidão e até vínculo afetivo com Lula.

A avaliação que ouvi de influentes canais do setor privado é que a economia vai bem, melhorou muito em todas as frentes desde o início de 2023, com mais emprego, renda e crédito e com menor inadimplência – até na baixa renda. Mas, se a economia melhorou muito, Haddad parece mais desgastado, vulnerável e cercado por todos os lados, inclusive no governo e, particularmente, no Planalto. Pior para quem? Para o próprio Haddad ou principalmente para Lula?

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e da GloboNews

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