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Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião | Um ‘ex-major que não vale nada’, a minuta de golpe do ministro da Justiça e o 8 de janeiro

PF mirava falsificação de atestados de vacinação, mas acertou em mensagens sobre atos golpistas

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Foto do author Eliane Cantanhêde

A Polícia Federal atirou no que viu e acertou no que não viu: a operação para desbaratar o que o ministro Alexandre de Moraes chamou de “organização criminosa” mirava a falsificação de atestados de vacinação de covid no sistema do Ministério da Saúde, mas acertou em mensagens que são ouro puro (não joias das Arábias...) para as investigações sobre a tentativa de golpe no Brasil.

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Um major expulso do Exército, com sete prisões nas costas, suspeito de repassar armas para quadrilhas, que diz “saber tudo” da morte de Marielle Franco, ajudou na fraude das vacinas e gravou áudio sobre o andamento de um golpe de Estado para o ajudante de ordens do presidente, um tenente coronel da ativa, que estava na antessala do gabinete presidencial.

No áudio, revelado pela CNN Brasil, o ex-major Ailton Barros fala as seguintes pérolas (também não das Arábias): era preciso que o comandante do Exército “faça o que tem de fazer”, inclusive um pronunciamento; senão ele, o presidente Jair Bolsonaro faria; prender Alexandre de Moraes num domingo; e ler as portarias e decretos do golpe na segunda-feira, com GLO, leia-se, Exército nas ruas.

Ailton Barros foi preso em operação da Polícia Federal, no Rio Foto: PEDRO KIRILOS/ESTADÃO - 03/05/2023

Loucura? Mas combina com o atentado de 8/1 e a minuta de golpe que a PF encontrou na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que mapeava os votos do agora presidente Lula no primeiro turno para jogar a PRF contra eleitores petistas. Pela minuta (“portaria ou decreto”), o TSE seria deposto por uma comissão mista de civis e militares. É golpe ou não?

“Nós temos a caneta e temos a força. Braço forte, mão amiga”, diz Ailton na mensagem, tratando o Exército Brasileiro como golpista e mequetrefe. Logo ele, amigão do ex-presidente, candidato derrotado como “01 do Bolsonaro”, que é mal visto pelos antigos pares: “esse major é de péssima reputação! Não vale nada”, atesta um general.

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Mas esse que “não vale nada” não fala sozinho. Eduardo Bolsonaro: “basta um soldado e um cabo para fechar o STF”. Ex-ministro da Educação (da Educação!) Abraham Weintraub, na reunião ministerial que expôs as vísceras do governo Bolsonaro: “Eu botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”. E quantas vezes o próprio presidente liderou atos contra Supremo e ministros, particularmente Alexandre de Moraes?

Tudo isso explica o 8 de janeiro e quem botava a mão na massa para Bolsonaro, por exemplo, embolsar os tesouros da Arábia Saudita e depois entrar nos EUA com atestados falsos de vacina, era o tenente coronel da ativa Mauro Cid. Primeiro de turma no Exército, agora está na cadeia, como Anderson Torres e Ailton Barros. Todos juntos, todos embolados.

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e da GloboNews

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