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Em ano de eleição, ministros de Lula emendam viagens de ‘volta para casa’ com agenda eleitoral

Cinco já viajaram neste ano mais do que em 2023, casando compromissos oficiais com atos das eleições; maioria alega que lei autoriza compra de passagens para retorno aos seus Estados

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Foto do author Bianca Gomes

Em um ano marcado pelas disputas municipais, ministros do governo Lula (PT) têm turbinado viagens pagas pela União para os seus redutos eleitorais. Levantamento do Estadão com base em dados do Painel de Viagens identificou que ao menos cinco chefes de pastas – Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Camilo Santana (Educação), André de Paula (Pesca e Aquicultura) e Carlos Lupi (Previdência Social) – já ultrapassaram em 2024 o total de deslocamentos realizados em 2023.

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Os ministros Celso Sabino (Turismo), André Fufuca (Esporte) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), que foram nomeados no segundo semestre do ano passado, também têm priorizado os Estados onde exercem influência.

A maioria dos ministros alegou que a Lei Orçamentária Anual de 2024 autorizou a compra de passagens para retorno à residência. A lei define que diárias e passagens só serão concedidas a servidores ou membros dos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público da União e Defensoria Pública da União “no estrito interesse do serviço público”, incluindo o transporte entre Brasília e o local de residência de origem de parlamentares e ministros.

O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acompanhado do vice-presidente Geraldo Alckmin  e dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Carlos Fávaro (Agricultura), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e o presidente do BNDES Aloizio Mercadante durante reunião com empresários no Palácio do Planalto, em Brasília. FOTO: WILTON JUNIOR/ESTADÃO Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

O ministro André de Paula aproveitou uma viagem a serviço do governo, realizada entre os dias 1° e 6 de agosto, ao custo de R$ 2,4 mil, para comparecer a pelo menos quatro convenções partidárias do PSD em Pernambuco, onde atua como presidente estadual. Durante esse período, visitou as cidades de Gameleira, Itapissuma, Olinda e Jaqueira. Entre os dias 26 e 29 de agosto, também esteve em Paranatama, Terezinha, Lagoa do Ouro e Aliança para oficializar candidaturas de aliados. Neste caso, o motivo da viagem foi registrado como “a serviço” do governo.

Em nota, a assessoria de André de Paula disse que os deslocamentos estão amparados pela Lei de Diretrizes Orçamentárias. “Sobre os eventos citados, as agendas políticas foram realizadas após o cumprimento de sua agenda como ministro.”

André Fufuca (PP), que assumiu o cargo no governo durante a reforma ministerial de setembro de 2023, já acumula 39 viagens este ano (contra 28 no ano anterior), das quais 31 foram para o Maranhão, Estado que o elegeu deputado federal duas vezes. No dia 12 de julho, Fufuca voou para São Luís, e no dia seguinte participou do lançamento da pré-candidatura de Djalma Melo a prefeito de Arari.

“No dia 12/07 ele seguiu para São Luís, conforme prevê a portaria que autoriza o deslocamento dos ministros de Brasília para as suas regiões de origem. Daí em diante, usou meios próprios para deslocar-se pelo interior do Estado”, informou a pasta.

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Empossado em agosto do ano passado para substituir a deputada federal Daniela Carneiro (União Brasil -RJ) no primeiro escalão do governo, Celso Sabino realizou 40 viagens este ano, sendo 18 delas para o Pará. Em seu Estado natal, ele participou principalmente de eventos organizados em parceria com o governo federal ou promovidos por aliados políticos. Em julho, Sabino esteve presente na inauguração do Estádio Municipal de Augusto Corrêa, ao lado do prefeito Estrela Nogueira (MDB), candidato à reeleição, e nas festividades de São João e na 11ª Caravana Federativa no Pará. A passagem de Sabino custou R$ 5,9 mil e foi a “serviço do governo”. Também consta uso de veículo oficial na viagem.

A assessoria do ministro disse que os deslocamentos foram realizados tanto para missões institucionais quanto para retorno à residência, seguindo as diretrizes da Lei 14.791/2023. “O Pará é relevante e estratégico, uma vez que será palco, em 2025, da COP-30, encontro internacional sobre mudanças climáticas. É por isso que se fazem necessárias articulações no Estado para aprimorar ainda mais a infraestrutura no geral”, disse a pasta.

Silvio Costa Filho tomou posse em 13 de setembro do ano passado e naquele ano, segundo o Painel de Viagens, realizou um total de 19 viagens. Em 2024, esse número quase triplicou, alcançando 53 até o momento. A maioria dessas viagens (26) foi para Pernambuco, seu reduto eleitoral, para onde o ministro viajou para cumprir agendas eleitorais.

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Na última viagem registrada, entre os dias 18 e 22 de julho (quinta a segunda-feira), Silvio Costa Filho desembolsou R$ 3,3 mil em passagens aéreas para o Recife. Durante esse período, se engajou em uma intensa maratona eleitoral, participando de pelo menos sete convenções de candidatos filiados ao Republicanos ou apoiados pelo seu grupo político em cidades do estado. O motivo oficial foi registrado como “deslocamento para local de residência”.

Entre as convenções, destaca-se a que oficializou José Queiroz (PDT) como candidato à prefeitura de Caruaru, quarta cidade mais populosa do Estado, além de eventos em outros seis municípios. Procurado há mais de uma semana, o ministro não respondeu. Após contato da reportagem, a viagem deixou de constar no Painel de Viagens.

O ministro da Educação, Camilo Santana, foi o que mais viajou neste ano, com um total de 55 deslocamentos (ante 46 em todo o ano passado). O Ceará, seu reduto eleitoral, foi o destino em 24 dessas viagens, mais que o dobro do registrado em 2023.

Além do retorno para a sua residência, Camilo dedicou as agendas no Estado a eventos de anúncios do governo federal em Fortaleza, onde o PT tenta conquistar a prefeitura com o deputado estadual Evandro Leitão, de quem Camilo é aliado e fiador político.

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A capital cearense é uma das prioridades do PT nas eleições municipais deste ano. Tanto que Leitão foi um dos poucos a contar com a presença do presidente Lula em sua convenção, realizada no último dia 3. Em eventos como o de 2 de julho, que anunciou a construção de novas creches em 57 municípios do Estado, Leitão esteve presente e posou ao lado de Camilo Santana e do governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT).

A assessoria do ministro afirma que ele participou de 51 agendas públicas pelo Brasil em 2024, das quais 8 (oito) no estado do Ceará. “Os demais deslocamentos para o Ceará refletem apenas seu deslocamento semanal para o estado de origem, onde reside sua família.”

Alexandre Padilha (PT) e Carlos Lupi (PDT) intensificaram suas viagens para seus respectivos redutos, mas com foco em agendas relacionadas ao governo. Padilha fez uma viagem oficial para São Paulo entre 19 e 22 de julho; no dia 20 do mês passado, ele participou da convenção de Guilherme Boulos (PSOL) na capital paulista.

A assessoria do ministro informou que ele cumpriu compromissos institucionais em São Paulo, conforme consta em sua agenda oficial. Disse ainda que o ministro permaneceu na capital paulista, onde fica sua residência oficial, durante o fim de semana, sem compromissos institucionais, e que no sábado acompanhou Lula na convenção de Boulos. “Na segunda-feira, o ministro retornou a Brasília em voo de carreira, conforme previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2024.”

Sem compromissos

Lupi realizou 27 viagens neste ano, sendo 16 para o Rio de Janeiro. Uma dessas viagens ocorreu entre os dias 7 e 11 de junho. Na noite do dia 10, ele oficializou a deputada estadual Martha Rocha como pré-candidata a vice-prefeita na chapa do prefeito Eduardo Paes, uma negociação que posteriormente não prosperou, já que Paes optou por ter Eduardo Cavaliere (PSD) como seu vice. Embora a viagem tenha sido classificada como a serviço, na agenda oficial do ministro não constam compromissos no Rio de Janeiro naquelas datas. Procurada, sua assessoria não respondeu.

Rui Costa realizou 43 viagens em 2024, mais que o dobro de todo o ano passado, de acordo com o Painel de Viagens. Em 27 ocasiões, o chefe da Casa Civil teve como destino a Bahia, Estado que governou por dois mandatos. Não há detalhamento, no Painel de Viagens, sobre as viagens realizadas pelo ministro no mês passado.

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