Em evento do Aliança, Bolsonaro diz que apoiador tem '8 arrobas' e redireciona planos para 2022

Durante videoconferência, presidente fez comentário semelhante que lhe rendeu acusações de racismo e processos na Justiça

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Foto do author Vinícius Valfré

BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro participou de um evento do Aliança pelo Brasil, em Vitória, capital do Espírito Santo, neste sábado, 29, por meio de uma videoconferência. Na chamada, interagiu com alguns dos apoiadores e, após receber elogios de um deles, fez um comentário semelhante ao que já lhe rendeu acusações de racismo e processos na Justiça.

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"Bolsonaro, sou negão, votei em você e em 2022 vou votar de novo. Você é o melhor presidente do Brasil", disse o apoiador, negro, ao presidente. "E você está com oito arrobas", respondeu Bolsonaro, arrancando risadas dos presentes.

A conferência foi feita por meio do telefone celular da advogada Karina Kufa, que articula a criação do novo partido. O áudio da conversa foi reproduzido nos alto falantes do evento, que reuniu entre 1 mil e 2 mil pessoas em Vitória, segundo os organizadores.

O presidente Jair Bolsonaro participa do lançamento do partido Aliança Pelo Brasil, no Hotel Royal Tulip, em Brasília, em novembro de 2019. Foto: Foto: Gabriela Biló / Estadão

Um comentário semelhante já rendeu ao presidente um processo por racismo. Durante uma palestra em abril de 2017, o então deputado federal disse que quilombolas visitados por ele não faziam nada e que o mais leve pesava sete arrobas – unidade de medida usada na pesagem de bovinos e suínos.

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Bolsonaro chegou a ser condenado na primeira instância, mas foi absolvido na segunda. Na época, a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas destacou que, "durante mais de três séculos e meio, pessoas negras foram legalmente comercializadas como escravas no Brasil, comercializadas inclusive em função da massa corporal que ostentavam". No início do mês, em conversa com jornalistas, Bolsonaro relembrou que já foi acusado de racismo, mas acabou absolvido. "Fui acusado de racismo no passado, resolvi o problema. E, quando você é absolvido ou é arquivado, ninguém toca mais no assunto, silêncio total. Zero, eu já fui no Supremo e respondi três anos por racismo, dois anos por crime ambiental, vários outros processos, eu chamei um amigo meu de oito arrobas e me processaram", disse.

Bolsonaro afirmou que está ficando muito chato viver no Brasil e que não se pode mais brincar com ninguém. 

"Eu estou preocupadíssimo, já passei de seis arrobas, estou preocupado, minha barriga está crescendo e não estou grávido. Está crescendo a barriga, pô. É idade, facada, a tela que eu botei. Qual é o problema de brincar entre amigos de arroba, feio, cabeludo, careca, gordo? Qual o problema? Daí vaza e falam 'olha como ele chama o ser humano'. Está ficando chato viver no Brasil. Estão querendo processar gente que vai no estádio, o cara vai lá no estádio e fala besteira para caramba", afirmou.

Na semana passada, durante uma transmissão ao vivo pela internet, Bolsonaro atribuiu a cor do deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ), que é negro, ao tempo a mais que ele teria passado na barriga da mãe. Em tom de brincadeira, Bolsonaro associou, por meio de uma metáfora, a gestação a um forno, e Hélio teria dado uma “queimadinha” ao demorar dez meses para nascer.

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Eleições

Ao dirigir uma mensagem final aos apoiadores capixabas, Jair Bolsonaro ignorou as eleições de 2020 ao dizer que vai "mergulhar" na disputa de 2022, quando pretende eleger deputados federais. "Com o partido formado, vocês vão se orgulhar de todos aqueles que nós trabalharmos para representar o diretório estadual. Vão ser pessoas realmente com ficha limpa, comprometidas com o futuro do Brasil. E nós mergulharemos em 2022 para, de fato, a gente mudar o destino do Brasil. Faremos uma grande bancada, se Deus quiser", comentou.A ideia inicial era ter o Aliança viabilizado para o pleito de vereadores e prefeitos deste ano. O núcleo que articula a formação do partido já dá o plano como abortado, como disse ao Estado o segundo-vice presidente do Aliança, Luís Felipe Belmonte. "Se não der agora, não tem problema, até porque seria um risco. Não haveria tempo de, em duas semanas, formar diretórios, filiar e procurar candidatos em 5.700 municípios."

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