O apresentador de TV José Luiz Datena (PSDB) foi oficializado, pela primeira vez em sua vida, como o candidato. Depois de sucessivas desistências, o jornalista é apresentado como candidato à Prefeitura de São Paulo durante convenção realizada neste sábado, 27, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). O evento começou marcado por bate-boca e tumulto na entrada do prédio por parte da militância do partido, e confirmou o ex-senador José Aníbal (PSDB) para compor a vice da chapa. A oficialização do jornalista acontece em meio a desacordos internos na sigla envolvendo um grupo favorável à reeleição do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB).
“Parece que nasci para este dia. Meus anos de vida me prepararam para hoje“, anunciou Datena, ao reforçar sua candidatura. “A força do partido está aqui dentro (no auditório da convenção). Lá fora (manifestantes) são canalhas financiados todo mundo sabe por quem. Quem deu dinheiro para carro de som do povo lá fora? Esse prefeito ‘pés de barro’, não posso afirmar, mas será investigado. Financiou esses camisas pretas aí de fora”, acusou o agora candidato sobre os participantes da manifestação contrária à sua candidatura. E acrescentou: “Aceitamos o voto do bolsonarista que não vai votar no Nunes porque sabe quem ele é. Aceitamos o voto do lulista que não votará no Boulos porque sabe quem ele é.”
Ao Estadão, a campanha de Nunes disse que as declarações do jornalista “serão avaliadas pelos advogados da pré-campanha do prefeito para a tomada de possíveis medidas jurídicas.”
No evento, Datena reforçou que a polarização apenas interessa à Lula e Bolsonaro, e voltou a chamar seus adversários Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) de “marionetes” de seus padrinhos políticos. Visivelmente incomodado com tumultos e manifestações que ocorreram antes da convenção do lado de fora do prédio, o jornalista, batendo na mesa, ressaltou: “Não somos extremistas. Aqui nesse lugar não tem covarde.”
O ex-senador e, agora, candidato à vice-prefeito pela ‘chapa puro-sangue’, José Aníbal, reforçou que Datena é candidato ‘popular’, alfinetando os outros concorrentes do pleito. “Nenhum dos candidatos que estão aí têm a expressão popular que ele tem”.
Manifestantes da ala que apoia a reeleição de Nunes no PSDB foram barrados de entrar na convenção pela própria organização da legenda.
O presidente tucano, Marconi Perillo, reforçou a necessidade de “buscar um caminho de paz”, em contrapartida aos protestos de hoje. “O PSDB não é um partido qualquer. É uma grife”, disse Perillo, dirigindo-se ao jornalista. “Eles que estão desesperados até ontem não acreditaram que o Datena seria candidato”, falando sobre as especulações de desistência do apresentador.
Mario Covas Neto, o Zuzinha, disse que espera que todos os que estão protestando do lado de fora se juntem à campanha de Datena, que rebateu: “Muitos não vão estar. Vão perder a mamata”. No lançamento da candidatura, além de Datena e de seu vice Aníbal, estiveram presentes o presidente do partido, Marconi Perillo (PSDB) e o presidente da Federação PSDB/Cidadania Mario Covas Neto. Não marcou presença, no entanto, Aécio Neves (PSDB), que participou de recentes reuniões de pré-campanha com o jornalista.
Oficialização de Datena acontece em meio a desentendimentos no partido e confusão em frente a Alesp
“Se encostarem a mão em mim, o bicho vai pegar”, disse Fernando Alfredo, ex-presidente do diretório municipal do PSDB na capital paulista, ao Estadão. Ele lançou sua própria pré-candidatura na última quinta, 25, para aumentar o conflito interno na legenda e tentar anular a candidatura de Datena, e foi barrado de entrar na convenção da legenda. “A gente chega aqui e já tem essa barreira impedindo que a militância entre”, acrescenta. “Estamos aqui para representar a militância que não concorda com a candidatura do Datena.”
“Estamos nos organizando para ter candidatura própria. Nosso candidato tem alinhamento programático (com o PSDB). Não concordamos com a manifestação”, disse um dos executivos municipais do partido durante a confusão na entrada da Alesp. Em seguida, Fernando pegou um dos adesivos de campanha de Datena, jogou no chão e pisou. “Aqui o Datena”, disse.
Essa é a primeira vez que Datena é oficializado como candidato a Prefeitura de São Paulo. O jornalista já desistiu de concorrer em outras quatro eleições passadas: duas municipais e duas para o Senado Federal. Anteriormente, o apresentador havia sido apresentado como companheiro de chapa de sua agora adversária Tabata Amaral (PSB).
A deputada federal, no entanto, ainda evita usar a palavra “traição” para classificar o que ocorreu. “Adjetivar não ajuda agora, o que existe são os fatos”, disse ela em entrevista ao Estadão/Broadcast divulgada nesta sexta, 26. Curiosamente, Orlando Faria, um dos coordenadores de campanha de Tabata e conhecido no ninho tucano, estava presente no evento.
Como tentativa de blindar o jornalista da cúpula tucana favorável a Nunes para a convenção que aconteceu neste sábado, a candidatura de Datena já havia sido homologada em uma reunião da Federação PSDB/Cidadania na sexta-feira, 26, pela manhã - um dia depois do lançamento de Alfredo como pré-candidato. “Todos os votos foram favoráveis. Nenhum voto contra”, disse o ex-senador José Aníbal. Na reunião, além da candidatura do jornalista, foi aprovada a chapa de candidatos que concorrerão aos cargos de vereador pelas siglas da federação.
Após a deliberação, Alfredo disse que entrou com recurso na Justiça Eleitoral contra a decisão. “A Federação não tem a prerrogativa de homologar a candidatura quando há uma candidatura convocada. Eles não podem homologar uma candidatura sem ter prévias, debate com a militância, programa de governo sendo discutido. Não tem nada”, afirmou.
No entanto, o próprio presidente nacional tucano, Marconi Perillo, já havia dito que o Datena teria todo o respaldo e segurança da legenda, e que não haveria “qualquer risco da candidatura não ser homologada pelas Executivas da federação e do partido.”
Fernando Alfredo afirma que o movimento por uma candidatura para rivalizar com Datena surgiu da militância e de fundadores que estão preocupados com a imagem do PSDB e a ausência de discussões internas sobre o rumo da legenda. O ex-presidente do diretório tucano de São Paulo chamou o apresentador para um debate, mas o jornalista afirmou que não debateria com ele. “Sem chance. Se ele quer debate, que se candidate na próxima eleição’, respondeu.
Ao Estadão, Datena já havia confirmado sua candidatura
O jornalista confirmou ao Estadão na última terça-feira, 23, que seria candidato a prefeito de São Paulo depois de ter recebido o apoio do presidente nacional da sigla, Marconi Perillo.
Mais tarde, ainda na terça, em entrevista concedida ao Flow Podcast, Datena reafirmou que não desistiu da disputa municipal, e espera ir “até o fim e ganhar a prefeitura”. O jornalista reforçou que precisava do apoio de seu partido para ter sua candidatura viabilizada, mas que confiava em Perillo, seguindo o que já havia afirmado ao Estadão anteriormente. “Dizem que é um sujeito muito duro, mas ele (Perillo) tem palavra. Ele me deu a palavra que eu seria o candidato.”
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