ESPECIAL PARA O ESTADÃO/RECIFE - Atrás nas pesquisas e disputando o voto da esquerda com Marília Arraes (Solidariedade) na corrida ao governo de Pernambuco, a campanha do governista Danilo Cabral (PSB) tenta descolar o nome da candidata do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ligá-lo ao do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL). A deputada federal por Pernambuco já foi do PT, hoje aliado de Cabral, e lidera todas as pesquisas até agora.
Em uma inserção na campanha eleitoral na TV, a Frente Popular, coligação de partidos que apoiam o PSB, afirmou que Marília traiu o PT ao votar em Lira para a presidência da Câmara, ao se lançar para a primeira- secretaria e ao pedir R$ 3,6 milhões em emendas do orçamento secreto - o dinheiro era para ser direcionado para a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco (Codevasf).
Marília confirmou o pedido, mas afirmou ter feito as solicitações somente neste ano, após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter autorizado a execução das emendas RP-9 com divulgação no Sistema de Indicação Orçamentária da Câmara dos Deputados. Ela afirmou que nenhuma delas foi atendida. A deputada disse ainda que seu papel é a “busca incessante” por trazer recursos para Pernambuco.
Após a veiculação da peça, Marília acionou a Frente Popular na Justiça pedindo a remoção da inserção televisiva. O Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE), em decisão assinada pelo desembargador eleitoral Rogério Fialho no último domingo, 11, negou o pedido de liminar.
Para o magistrado, não houve “transgressão à norma” porque não há, no referido material de Danilo Cabral, “nenhuma informação caluniosa, difamatória, injuriosa ou sabidamente inverídica” sobre o orçamento secreto ou sobre voto em Arthur Lira.
Apoio a Lira vira arma de governista contra Marília
Marília negou que tenha votado em Lira e disse ter apoiado Baleia Rossi (MDB). Num debate na TV, realizado na última sexta-feira, 9, ao qual a candidata não compareceu, Danilo Cabral voltou a falar sobre o assunto.
Mesmo sem a presença da adversária, ele aproveitou uma pergunta para dizer que a deputada acessou recursos do orçamento secreto e insinuou que o suposto apoio ao presidente da Câmara, assim como a ausência em votações sobre a compra de vacinas da covid-19 por empresas privadas e a liberação de armas, seriam resultado de acordos envolvendo as emendas.
“Além das denúncias de corrupção do uso do orçamento secreto, também há denúncias que os recursos estão sendo usados para cooptar parlamentares dentro do Congresso Nacional para formar maioria, aliando o Centrão com Bolsonaro para aprovar projetos que são contra o interesse da população. Marília, será que por ter usado o recurso do orçamento secreto, que você se ausentou da votação do fura-fila da vacina? (...) Será que foi por isso que você se ausentou da votação que trata da liberação de armas, a principal pauta do bolsonarismo no Brasil?”, disse Danilo, no debate.
O trecho foi recortado e usado nas redes de Danilo Cabral, mas, por determinação da Justiça Eleitoral, foi removido após decisão judicial na segunda-feira (12).
“Não se conclui que a candidata Marília Arraes recebeu dinheiro do orçamento secreto para si: na verdade, a Revista Valor Econômico explica que a candidata cadastrou R$ 3,6 milhões para a compra de equipamentos agrícolas para associações de agricultores, prefeituras e centros sociais no interior do Estado e ainda divulga nota da candidata, informando que seu pleito não foi atendido”, concluiu o desembargador eleitoral auxiliar Dario Rodrigues Leite de Oliveira.
Também nesta segunda-feira, Marília Arraes protocolou uma notícia-crime contra Cabral, acusando o adversário de injúria e difamação.
A equipe jurídica da candidata questiona o uso do termo “orçamento secreto”, citando a decisão do STF como responsável por garantir maior publicidade e transparência à execução orçamentária das despesas classificadas com o indicador RP 9. Na ação, cita-se a inserção televisiva e o recorte do debate.
Corrida eleitoral em Pernambuco
De acordo com a terceira rodada da pesquisa Ipespe em Pernambuco, divulgada na segunda, 12, Marília lidera a corrida com 35% das intenções de voto. Cabral vem oscilando positivamente e agora está num empate técnico pelo segundo lugar, com 12%, um ponto porcentual a menos que Anderson Ferreira (PL), candidato de Bolsonaro. Raquel Lyra (PSDB) tem 12% e Miguel Coelho (União Brasil), 10%.
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