XIMBIOÁ - O calor de quase 40 graus na região do rio Araguaia, entre as cidades de Ximbioá (TO) e São Geraldo (PA), foi o palco escolhido pelo presidente Michel Temer para anunciar uma ponte que não ficará pronta até o final de sua gestão. Foi a primeira vez dele como chefe do Executivo na Região Norte do País. A visita mudou a rotina de Ximbioá, que tem apenas 11.645 habitantes. As pequenas ruas - muitas sem asfalto - foram tomadas por homens do Exército que mantiveram o presidente e sua comitiva blindados de qualquer possível incidente. Aregião foi palco da guerrilha do Araguaia, entre o final da década de 1960 até o final de 1974.
Ele foi até lá para prometer a construção de uma ponte entre os dois Estados, pleito antigo e quase uma quimera para a população local. Disse, sem parecer ter conhecimento de que a obra está prevista para começar em janeiro e demorar três anos para ficar pronta, que gostaria de estar no governo em sua inauguração.“O meu maior desejo seria agilizar com tanta velocidade essas pontes. Eu tenho mais um ano e meio de governo. Gostaria que antes do final do meu governo eu pudesse inaugurá-la. Acho que é difícil, difícil, mas nós temos que agilizá-la com esse propósito”, afirmou no palco que cedeu para a prefeita de Ximbioá, Patricia Evelin (PMDB), e para o governador do Tocantins, Marcelo Miranda, também do PMDB. Miranda, a quem Temer chamou de “amigo”, é investigado e foi obrigado a depor no mês passado no âmbito da Operação Convergência, da Polícia Federal, que apura pagamentos indevidos justamente em obras de infraestrutura no Estado.
O presidente abusou na viagem da analogias entre pontes e a política. “E a ponte é isso, ela tem sempre, traz uma ideia de ligação: a ponte entre pessoas, a ponte entre Estados, a ponte entre bairros, a ideia é sempre de ligação, e eu confesso que estabeleci, meus amigos, muitas pontes no País, entre elas com a qualidade de promover uma pacificação entre os brasileiros.” Depois, concluiu: “E eu quero dizer a vocês que de todas as pontes que eu construí, eu levo daqui, passando depois para o Pará, eu levo a sensação de que a ponte mais importante que eu vou construir é a que liga Xambioá (TO) a São Geraldo do Araguaia (PA). Não tenho dúvida disso.”
O presidente usou a palavra ponte como “fio condutor” de seus dois discursos tanto do lado do Tocantins como do lado do Pará. “A minha convicção é de que construir pontes, é fortalecer, digamos assim, o civismo e fortalecer amizades”, disse. “De modo que, ao cumprimentar a todos, eu quero mais uma vez dizer, que essas coisas elas não nascem espontaneamente. Não é o presidente da República, que diz: 'Olha, eu vou fazer lá uma ponte que liga dois estados'. Isto é fruto de um conjunto. Um conjunto de atividades. São pessoas que se unem, pautados pela sua vida pública.”
Sem vaias e com aplausos protocolares, Temer foi interrompido uma única vez com um senhor gritando “presidente reformista”. Sorriu e agradeceu. À imprensa, no entanto, ele evitou dar ouvidos e, mesmo diante da insistência dos jornalistas, apenas acenou a distância. Com alguns políticos, já deixando Xambioá para ir de helicóptero até São Geraldo, Temer tirou selfies.
Vestido diferente do habitual, estava sem terno e gravata, reconheceu que é acostumado a trabalhar no gabinete. “Tenho saído pouco lá de Brasília em face de milhares de compromissos”, justificou. Mesmo sem entregar a ponte, ele disse que voltaria a Brasília com a alma incendiada.“Eu volto com a alma incendiada para continuar a dirigir o País, com o apoio do povo de Tocantins”.
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