Em resposta a Huck, Barroso diz que ‘País vive sequestro de narrativa’ anticorrupção

Em debate com apresentador da Globo e governador Eduardo Leite, ministro faz críticas indiretas a Bolsonaro e ao 'arco de alianças para desacreditar o Brasil'

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Foto do author Pedro  Venceslau

Em resposta a uma pergunta do apresentador Luciano Huck, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, fez uma série de críticas indiretas ao bolsonarismo e ao governo federal nesta quinta-feira, 4. Barroso disse que o Brasil vive hoje um “sequestro da narrativa” de quem se elegeu com um discurso contra a corrupção. 

A declaração foi dada em um debate promovido pelo grupo de formação política RenovaBR. Huck havia questionado Barroso sobre como o TSE vai reagir a ataques à credibilidade do sistema eleitoral. O ministro então afirmou  que existem hoje três fenômenos que impactam a democracia: populismo, extremismo conservador e autoritarismo. “Isso impacta o mundo inteiro, e o Brasil inclusive”, disse o ministro. 

O apresentador Luciano Huck media debate com o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, e o governador do RS, Eduardo Leite Foto: Reprodução/Youtube

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Segundo o presidente do TSE, o autoritarismo é uma “assombração” na América Latina. 

“Uma das manifestações contemporâneas do autoritarismo é a tentativa de desacreditar o processo político e colocar em dúvida a autenticidade do processo eleitoral”, disse. “O Brasil está sujeito à incidência desses três fenômenos.” 

Ao dissertar sobre o que chamou de “tentativa de sequestro da narrativa”, Barroso pontuou que, após o caso do mensalão, formou-se um “arco de aliança” para desacreditar as instituições do País. 

“O mensalão pela primeira vez condenou políticos e empresários por crimes como corrupção ativa, passiva, peculato e lavagem de dinheiro. Foi um marco da vida brasileira. Quando o processo extrapolou o PT e chegou a  mais partidos, e é essa a verdade, a determinação arrefeceu. O problema é que no Brasil do andar de cima todo mundo tem parente, amigo ou ente querido que estava metido em coisa errada. Forma-se um arco de aliança que tem representantes em toda parte, da imprensa até onde menos se espera, e começa a trabalhar para desacreditar tudo”, afirmou. 

‘Adulto na sala’

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Ligado ao RenovaBR, Huck condenou “o não diálogo” no Brasil ao formular uma pergunta para o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, também cotado como potencial candidato do PSDB ao Palácio do Planalto. 

“A sensação que eu tenho, Eduardo, é que falta o adulto na sala, sabe? E você a meu ver tem sido uma voz ouvida no cenário nacional hoje em dia, uma voz ponderada, uma voz defendendo a sensatez no trato da gestão pública. E acho que esse é o melhor caminho.” 

O apresentador da Globo vem subindo o tom contra o governo Bolsonaro em suas falas. No início da semana, ele disse que é preciso tirar “um entulho do meio da sala”, ao se referir à atuação do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia do novo coronavírus. Na fala, ele não citou o nome do atual ocupante do Planalto. 

Ao lado da ex-ministra Marina Silva (Rede) e da ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB), Huck participou do painel virtual Davos Lab Brasil, iniciativa do Fórum Econômico Mundial preparatória para a edição deste ano do evento, prevista para ocorrer em agosto. 

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Desde o ano passado, ao menos quatro partidos já sondaram Huck para uma eventual campanha no ano que vem. 

Com o DEM fragmentado após as eleições para a presidência da Câmara dos Deputados, uma opção que passou a ser avaliada com atenção extra por aliados do apresentador é o PSB. As conversas ocorrem desde o ano passado e têm sido estimuladas pelo prefeito do Recife, João Campos (PSB), e por sua namorada, a deputada federal Tabata Amaral (SP), que está rompida com seu partido, o PDT. Tabata tem relação próxima com Huck e foi a ponte entre ele e Campos. Os dois jovens políticos também integram o RenovaBR. 

Identificação civil. Em sua participação no evento do RenovaBR, que foi apresentado pelo fundador do grupo, Eduardo Mufarej, Barroso defendeu um projeto para unificar, num só banco de dados governamental, informações que vão de dados bancários, socioeconômicos, criminais e de biometria do TSE. O ministro quer que o custo para esse projeto, batizado de Identificação Civil Nacional, seja excluído do teto de gastos. 

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“Estou muito empenhado nesse projeto. Você sabe que interlocutor político não se escolhe, então fui atrás do dinheiro (para o projeto). Na verdade, fui atrás de fugir do teto (de gastos)”, disse Barroso. “Acredito que o Brasil só vai avançar quando todo mundo tiver internet mesmo”, complementou Huck. / COLABOROU TULIO KRUSE

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