Embaixada saudita silencia sobre joias a Bolsonaro e diz que aguarda posição do regime árabe

Representante do departamento econômico da Embaixada da Arábia Saudita disse ao Estadão que representação espera um posicionamento oficial do regime árabe

PUBLICIDADE

Foto do author Adriana Fernandes
Foto do author André Borges
Atualização:

BRASÍLIA – A Embaixada da Arábia Saudita tem silenciado sobre a entrada ilegal das joias que o regime saudita deu de presente ao então presidente Jair Bolsonaro e a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Desde sábado, o Estadão pede um posicionamento às representações internacionais, por e-mail e telefone. Foram contatadas tanto a chancelaria brasileira em Riade, capital da Arábia Saudita, quando a embaixada do regime árabe em Brasília. Não houve nenhuma resposta.

Nesta terça-feira, 7, o Estadão esteve pessoalmente na Embaixada da Arábia Saudita, em Brasília, para tentar ouvir algum porta-voz sobre o assunto. Ao chegar ao local, enquanto estava na rua, a reportagem foi abordada pelos seguranças, equipes que ficam distribuídas dentro e fora do imóvel. Os funcionários não queriam que imagens fossem feitas do local, mesmo do meio da rua.

Embaixada da Arábia Saudita, em Brasília, não comenta escândalo da entrada ilegal dos diamantes no País e diz que aguarda posição do regime árabe.  Foto: Wilton Junior/Estadão

PUBLICIDADE

Depois de pedir para falar com algum representante do órgão, o segurança tomou os dados dos repórteres e pediu que aguardasse do lado de fora do prédio. Minutos depois, um funcionário identificado como Hamad Alex, responsável pelo departamento econômico da embaixada, veio até o portão.

Hamad disse que tinha conhecimento do caso das joias, mas pediu que o pedido de posicionamento fosse encaminhado a um terceiro e-mail, o que foi feito no mesmo momento. “Normalmente tem que marcar um horário com o embaixador. Como vocês devem imaginar, ele tem muitos compromissos. Não é a pessoa chegar e falar, mas manda o e-mail e a gente responde”, afirmou.

Publicidade

A reportagem perguntou se não poderia falar com algum responsável sobre o assunto. Hamad Alex voltou a negar. “No momento não, até porque a gente está à espera”. Questionado sobre o que esperava, ele disse: “do posicionamento”. Mais uma vez, a reportagem insistiu: “posicionamento de quem, do governo brasileiro?”, ao que o representante respondeu: “Da Arábia Saudita.”

O Estadão segue aguardando um posicionamento oficial do regime árabe sobre o caso.

Como revelou a reportagem, o ex-presidente Jair Bolsonaro atuou pessoalmente para tentar liberar o conjunto de joias e relógio de diamantes dados como presente pelo regime saudita. O jogo de joias foi inicialmente avaliado pelos fiscais da Receita em US$ 1 milhão, conforme seu termo de retenção. Depois, chegou a ser reavaliado, com possibilidade de chegar a até 3 milhões de euros, o equivalente a cerca de R$ 16,5 milhões.

Depois da retenção, o governo Bolsonaro fez, ao menos, oito tentativas para tentar ficar com as joias, incluindo ações por meio de ministérios, militares e próprio gabinete da Presidência da República. Um segundo pacote de joias, com relógio e outros itens, chegou a entrar irregularmente no País, conforme afirmou ao Estadão o ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que liderava a comitiva que trouxe os itens ao Brasil, em 26 de outubro de 2021.

Publicidade

Nesta segunda-feira, 6, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal deram início às investigações sobre o caso. O inquérito vai correr em sigilo na Delegacia Especializada de Combate a Crimes Fazendários da superintendência da corporação em São Paulo. Os investigadores têm 30 dias para concluir o inquérito, mas o prazo pode ser prorrogado se houver necessidade. Umas das primeiras medidas da investigação deverá ser o depoimento de integrantes da comitiva que trouxe as joias da Arábia Saudita.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.