Empresa de ‘laranja’ de Juscelino Filho fez R$ 16 milhões em contratos com prefeitura da irmã

Apontado pela PF como ‘testa de ferro’ de Juscelino, Antonio Tito diz que frequentou casa de ministro das Comunicações e revela ter vendido máquina a Eduardo Imperador, suspeito de pagar propina, por R$ 300 mil. Antonio Tito, contudo, nega irregularidades

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Foto do author Tácio Lorran
Atualização:

BRASÍLIA - A empresa apontada pela Polícia Federal como sendo do “testa de ferro” do ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), fechou R$ 16,2 milhões em contratos com a Prefeitura de Vitorino Freire (MA), comandada pela irmã do ministro de Lula.

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Em um período de cinco anos, entre 2017 e 2022, a Arco Construções e Incorporações firmou nove acordos com Vitorino Freire, de construção de praças e escola à locação de caminhões e recuperação de estradas.

No papel, a empresa pertence a Antonio Tito Salem Soares, de 40 anos. Em conversa com o Estadão na tarde desse domingo, 3, ele admitiu ter certa intimidade com Juscelino Filho a ponto de ter frequentado a casa do ministro, mas negou ser laranja. O nível de proximidade é tanto que os irmãos de Antonio fizeram campanha para Juscelino Filho e foram um dos primeiros a serem recebidos no gabinete do atual ministro das Comunicações, na segunda semana de janeiro.

“As alegações que fazem é de que sou um laranja de uma pessoa que só conheço socialmente, mas nunca tive nenhum acordo, nenhuma negociata. Sou dono da minha própria empresa, que foi aberta desde antes de conhecê-lo, inclusive”, afirmou Antonio Tito. A Arco Construções foi aberta em setembro de 2015, assim que Juscelino assumiu seu primeiro mandato como deputado federal do Maranhão.

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Procurado, Juscelino Filho disse, por meio de sua asssssoria que ”não teve e não tem qualquer relação societária, direta ou indireta, com essa empresa”. Segundo a nota, por inão ter vinculação com a firma investigada, Juscelino “ não pode ser responsável pelos seus contratos.”

Antonio Tito e a prefeita Luanna Rezende (União Brasil), irmã de Juscelino, foram alvos de mandados de busca e apreensão nessa sexta-feira, 1, no âmbito da terceira fase da Operação Benesse, que investiga o desvio de emendas parlamentares, lavagem de dinheiro e fraude em licitação. A apuração da PF foi baseada em uma série de reportagens do Estadão, que revelou o mau uso de dinheiro público por Juscelino, incluindo o uso do orçamento secreto para asfaltar uma estrada que corta fazendas da família do ministro de Lula em Vitorino Freire.

Luanna Rezende, prefeita de Vitorino Freire, ao lado do irmão e ministro das Comunicações, Juscelino Filho Foto: Redes sociais

Também investigado, Juscelino Filho não chegou a ser alvo de mandado de busca, por decisão do ministro do STF Luís Roberto Barroso, mas teve os bens bloqueados.

Segundo a Polícia Federal, a Arco Construções pertence “faticamente” a Juscelino Filho e teria sido usada para receber propina do empresário Eduardo José Costa Barros, também conhecido como Eduardo Imperador ou Eduardo DP.

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Eduardo Imperador é o sócio-oculto da Construservice, que mantém contratos com Vitorino Freire (é dele a obra das fazendas) e com outras várias cidades do Maranhão. Ele chegou a ser preso nas primeiras fases da Benesse justamente sob suspeita de pagar propina para obter contratos no Estado, mas logo foi solto ao pagar fiança.

À reportagem, Antonio Tito confirmou conhecer “socialmente” Eduardo Imperador, mas, novamente, negou as suspeitas da Polícia Federal.

Empresário conhecido como "Eduardo Imperador" foi preso pela Polícia Federal acusado de fraudar licitações no Maranhão. Foto: Reprodução

“Conheço Eduardo DP socialmente, mas nunca fui subcontratado dele. Pelo contrário. Ultimamente, passando por um momento difícil, eu vendi uma máquina para ele”, relatou. “Foi uma motoniveladora, por R$ 300 mil, que ele transferiu para a minha conta. Faz um ou dois anos.”

Ligações

Inicialmente, a Arco Construções tinha como sócios os irmãos Lia Candida e Júlio Neto Parentes Santana. Ela é casada com Antonio Tito desde 2010, de acordo com edital de proclamas publicado no Diário da Justiça do Piauí, e trabalhou no gabinete de Juscelino por quase um ano, de julho de 2017 a maio de 2018. Seu salário como secretária parlamentar era de R$ 15.022,32.

Outra ex-assessora de Juscelino também foi sócia da Arco. Anne Jakelyne Silva Magalhães deixou o cargo comissionado na Câmara em novembro de 2016 para se tornar dona da empresa. Hoje, contudo, a companhia está registrada somente no nome de Antonio Tito.

Juscelino Filho, ministro das Comunicações, durante audiência com Diogo Tito Salem Soares. Foto: Instagram/@diogotitouniaobrasil Foto: Instagram/@diogotitouniaobrasil

A empresa fica localizada em uma avenida no bairro Jardim Renascença, em São Luís, e fornece e-mail e telefone fictícios. O e-mail consta como a@gmail.com. Já o telefone está descrito como (98) 1111-1111.

Além disso, o irmão de Antonio, Diogo Tito, é dono de outra companhia beneficiada pela Prefeitura de Vitorino Freire. O Estadão revelou em fevereiro que Diogo é sócio oculto da Mubarak, que ganhou R$ 2,9 milhões para obras de estradas vicinais. Ao todo, a firma acumulou R$ 4,8 milhões em contratos. Na segunda semana como ministro, Juscelino recebeu o empresário no gabinete sem registrar na agenda oficial.

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