PUBLICIDADE

Empresários que teriam defendido golpe no WhatsApp são alvo de pedido de investigação no STF

No Twitter, senador Randolfe Rodrigues disse querer que a Corte avalie quebra de sigilo e prisão, ‘se necessário’; grupo inclui líderes das marcas Havan, Coco Bambu, Multiplan e Tecnisa, entre outras empresas

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse ter acionado o Supremo Tribunal Federal (STF) para quebrar o sigilo de um grupo de WhatsApp com empresários bolsonaristas que teriam defendido, na troca de mensagens, um golpe de Estado para manter o presidente Jair Bolsonaro (PL) no Planalto. O parlamentar defende que os autores das mensagens sejam presos “se necessário”. “A democracia não pode tolerar a convivência com quem quer sabotá-la”, argumentou.

PUBLICIDADE

O grupo em questão se chama “Empresários e Política”. O caso foi revelado pelo portal Metrópoles. Segundo o colunista Guilherme Amado, o empresário José Koury, dono do Barra World Shopping, teria dito preferir “um milhão de vezes” um golpe que a volta do PT, alegando que isso não afastaria investimentos do Brasil. Neste momento, as pesquisas eleitorais apontam o candidato Luiz Inácio Lula da Silva na liderança para o cargo de presidente da República, com chance de vitória em primeiro turno.

“Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, diz a mensagem de Koury.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) acionou o STF contra empresários bolsonaristas acusados de defender golpe.  Foto: Moreira Mariz/Agência Senado

Segundo o Metrópoles, o grupo também tem Luciano Hang, dono das Lojas Havan, Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu, Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii, Vitor Odisio, da Thavi Construction, entre outros. Nas mensagens, eles não articulam um golpe, mas defendam que ele aconteça. Assim como o presidente Bolsonaro, eles argumentam que uma vitória de Lula nas urnas decorreria de fraude do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“O 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro”, diz uma mensagem de Marco Aurélio Raymundo, ainda de acordo com o portal sediado em Brasília. “Golpe foi soltar o presidiário. Golpe é o ‘Supremo’ agir fora da Constituição”, completou.

Ainda segundo a reportagem, André Tissot, do Grupo Sierra, teria defendido que a ruptura deveria ter ocorrido em 2019, no primeiro ano do mandato. “O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo. Em 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais”, ele escreveu, segundo o colunista.

Ivan Wrobel, da W3 Engenharia, teria escrito: “Quero ver se o STE (ele pode ter confundido a sigla tanto do STF como do TSE) tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na Av. Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público”.

Publicidade

Em mensagens anteriores, de outros dias, os integrantes do grupo demonstraram descontentamento com o Judiciário, sobretudo com o ministro Alexandre de Moraes, que hoje preside o TSE e é um dos maiores desafetos de Bolsonaro. Ainda segundo a coluna, o magistrado é frequentemente chamado de “skinhead” e associado ao PCC por Carlos Molina, dono da Polaris. “Já nem o PCC tem paciência para aturar o skinhead de toga”, diz uma de suas mensagens.

Em outra ocasião, o fundador da Tecnisa, Meyer Nigri, compartilhou uma corrente desacreditando o TSE e contendo ataques ao STF. “Leitura obrigatória”, escreveu. Em resposta, Raymundo publicou: “Se partirem para a ignorância o caldo vai entornar e nem é bom pensar o que pode acontecer”.

Randolfe integra a campanha presidencial de Lula como um dos coordenadores. Em fevereiro deste ano, ele abriu mão de disputar o governo do Amapá para se dedicar à tentativa de eleição do petista.

PUBLICIDADE

Os empresários citados na reportagem apresentaram suas defesas ao portal. Todos disseram ser a favor da democracia. José Koury argumentou que pode manifestar sua opinião “com toda a liberdade” e negou que tenha defendido um golpe de Estado, mas admitiu que “preferia isso” do que a volta do PT. Raymundo afirmou que não apoia qualquer ato “inconstitucional, ilegal ou violento” e disse ter usado “figuras de linguagem”. Afrânio Barreira disse ter ficado “surpreso” com a alegação de que ele defenderia uma ruptura institucional e que participa de muitos grupos nos quais os assuntos são diversos, incluindo política. Nigri, da Tecnisa, disse que repassar uma mensagem não significa que ele concorde com seu teor. André Tissot alegou, por meio de assessoria, estar viajando e não poder responder. Luciano Hang, Vitor Odisio, Carlos Molina e Ivan Wrobel não se manifestaram.

O presidente Bolsonaro comentou o assunto nesta quinta-feira, 18. Ele minimizou o teor das mensagens e afirmou que a alegação de que os empresários querem dar um “golpe” é “fake news”. “Golpe? Quem vai dar golpe? Isso é fake news”, disse.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.