BRASÍLIA - À véspera do recesso parlamentar, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal têm vivido climas antagônicos a respeito da sucessão de seus respectivos presidentes, cujos mandatos terminam em fevereiro de 2025.
Com pelo menos cinco pré-candidatos ao cargo hoje ocupado por Arthur Lira (PP-AL) na Presidência da Casa, a Câmara passa por um “circuito de confraternizações” em que os postulantes tentam arrebatar apoio para sua eleição (veja abaixo).
O clima contrasta com o do Senado, presidido por Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Nos bastidores, senadores mencionam a expectativa de ver Davi Alcolumbre (União-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça, voltar à presidência — que já havia ocupado entre 2019 e 2021, mas teve a possibilidade de reeleição vetado pelo Supremo Tribunal Federal, quando a Corte entendeu que a Constituição proíbe dois mandatos dentro da mesma legislatura.
Embora Alcolumbre seja colocado como o principal cotado a presidente do Senado sem nem mesmo ter oficializado a sua intenção, começam movimentações no Casa para impedir o seu grupo político de se manter no poder pelo quarto mandato seguido.
As senadoras Soraya Thronicke (Podemos-MS) e Eliziane Gama (PSD-MA) articulam suas próprias pré-candidaturas para “romper o ciclo de quase 200 anos sem uma mulher na presidência da Casa”. Elas trabalham para conquistar o apoio em bloco da bancada de 16 senadoras e tentar fazer com que uma das duas sente na cadeira, de forma inédita.
“Uma candidatura feminina tem uma responsabilidade de largada, que é a de lutar pela paridade na Mesa Diretora e nas comissões. Se não (houver) a paridade, pelo menos a proporcionalidade. Somos 13% no Senado, mas não temos nenhuma mulher na Mesa”, diz Eliziane.
Nome do União Brasil à Presidência da República em 2022, Soraya diz que a ideia de sua pré-candidatura nasceu ao perceber que os senadores já estavam se movimentando “nos bastidores” pela eleição de Alcolumbre. A presidente de seu partido, Renata Abreu, então a incentivou a se lançar na disputa.
Crítica da ofensiva contra o Judiciário manobrada por Pacheco no último ano, a senadora também defende paridade de gênero na Mesa Diretora, e teme que a Casa venha a aprovar uma anistia aos envolvidos nos ataques do 8 de Janeiro caso o próximo presidente recorra ao apoio bolsonarista para se eleger.
“Eu jamais (sentada) na cadeira permitiria ataques ao STF. É quando o Legislativo se omite e deixa uma lacuna que o Judiciário tem que agir, quando provocado. Essa animosidade com o Judiciário precisa acabar”, afirma Soraya.
Alcolumbre, procurado, não quis se manifestar.
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Uma das razões pelas quais as campanhas eleitorais no Senado são menos ostensivas que na Câmara é o tamanho — com 81 senadores, a Casa é cerca de seis vezes menor que a vizinha. Com menos parlamentares, os candidatos podem negociar individualmente, marcando encontros reduzidos, e abrir mão de festas populosas para atrair eleitores em massa, como acontece na Câmara.
Nos próximos meses, o PL de Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto deve viver novo dilema entre apoiar um candidato viável para se eleger e correr o risco de ficar, por mais dois anos, sem os principais cargos da Casa.
Isso porque o partido, que havia acabado de abrigar a nata do bolsonarismo com uma votação expressiva em 2022 e precisava marcar posição com uma candidatura para dificultar a vida do governo Lula no Senado, lançou o senador Rogério Marinho (RN) contra Pacheco. Derrotado, acabou de fora da composição da Mesa Diretora e sem comissões e relatorias importantes.
À época, o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), defendeu uma composição para abrigar o PL na cúpula do Senado, mas sem êxito. Agora, Marinho é citado novamente como uma opção viável para suceder Pacheco, mas as lideranças têm evitado comentar o assunto.
“O debate ainda não foi feito dentro do partido. A questão será tratada após as eleições municipais”, diz o senador Carlos Portinho (RJ), líder do PL.
Nem mesmo uma homenagem a Pacheco realizada pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) na noite da quarta-feira, 10, atraiu concorrentes ao posto que vai vagar em fevereiro. Com o ex-ministro Raul Jungmann de anfitrião, o evento reuniu, em um casarão no Lago Sul, a cúpula dos Três Poderes: ministros do governo Lula e do STF, senadores, deputados, embaixadores e empresários, mas nenhum dos possíveis candidatos à presidência do Senado.
Enquanto isso, perto dali, os pré-candidatos à sucessão de Arthur Lira confraternizavam ao som da banda baiana Timbalada, na festa do líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA). Ele recebeu uma diversidade de lideranças em uma mansão na capital federal, para comemorar o seu aniversário. Os eventos foram considerados demonstrações de força na corrida eleitoral. Presidente nacional do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira teve sua oportunidade de aproveitar o aniversário, em abril, para arrebatar apoio à sua empreitada eleitoral.
Um dia antes, o pré-candidato do PSD, Antônio Brito (BA), reuniu num restaurante em Brasília ministros do governo Lula, bolsonaristas e até mesmo seus rivais na disputa pelo comando da Casa, como mostrou o Estadão.
Ao som de Dudu Nobre, cantor contratado especialmente para a ocasião, os aniversariantes do mês da bancada do PSD comemoraram mais um ano de vida, mas o jantar foi mesmo um termômetro da popularidade de Brito no meio político e do fortalecimento de sua candidatura.
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