A operação deflagrada pela Polícia Federal nesta quarta-feira, 22, para desmantelar um plano que mirava o ex-juiz e agora senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) ocorreu cerca de 45 dias após o início das investigações. A corporação foi acionada pelo Ministério Público de São Paulo, que identificou risco à segurança de Moro e também do promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que também era alvo do PCC. Moro afirmou que foi informado sobre a investigação no fim de janeiro e recebeu reforço de sua segurança pela polícia legislativa e pelas polícias militares de São Paulo e do Paraná.
Chamada Operação Sequaz, a força-tarefa mobilizou cerca de 120 agentes que foram às ruas cumprir 11 mandados de prisão – sete preventivas e quatro temporárias – em Mato Grosso do Sul, Rondônia, São Paulo e Paraná. O efetivo vasculhou 24 endereços ligados a investigados, apreendeu veículos de luxo e desfez o plano montado pela quadrilha.
Como era o plano
O plano do Primeiro Comando da Capital (PCC) para assassinar o senador Sérgio Moro se baseava no método de “seguir e vigiar” o ex-juiz e membros de sua família para levantar informações que ajudassem a capturá-lo, segundo informou a PF. Os “quartéis” dos criminosos estavam localizados principalmente em São Paulo e no Paraná, onde Moro e sua mulher, a deputada federal Rosângela Moro (União Brasil-SP), têm residência.
Além do senador, a facção também mirava o promotor de Justiça de São Paulo Lincoln Gakiya. Em entrevista à jornalista Julia Duailib nesta quarta-feira, 22, Gakiya afirmou que o plano partiu do “setor de homicídios” do PCC, chamado “setor de sintonia restrita”. Segundo o promotor, os criminosos se referiam a Moro pelo codinome “Tóquio”, e alugaram casas e chácaras para executar os atentados. Esses imóveis seriam próximos a locais que as vítimas e suas famílias frequentam. Também havia uma “vigilância constante” das vítimas e de familiares.
Segundo o ministro da Justiça, Flávio Dino, a operação da PF encontrou bunkers montados pelos criminosos nos locais onde foram cumpridos os mandados de busca e apreensão. Os espaços poderiam ser utilizados para guardar armamento ou, ainda, servir de cativeiro. Vídeos da Polícia Federal mostram agentes da polícia desvelando um desses compartimentos, uma parede falsa em uma casa pertencente a um dos investigados em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba.
O ministro afirmou que a investigação trabalha com a hipótese de extorsão mediante sequestro, além de homicídio. Na tese do sequestro, o dinheiro extorquido poderia ser utilizado para tentar tirar Marcola da prisão.
Atuação de Moro e Gakiya
Na época em que era ministro da Justiça, Moro coordenou a transferência e isolamento de lideranças do PCC para presídios federais, entre eles Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, principal mandante da facção. Já Gakiya integra o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) e é responsável por uma série de investigações que atingem a facção há mais de uma década, e foi também ele, em 2019, que pediu a transferência de Marcola para o sistema penitenciário federal.
A transferência de Marcola e outros 21 membros da cúpula da facção para o sistema penitenciário federal, em janeiro de 2019, irritou o PCC, que passou a ter dificuldade de articulação após a mudança. Até então, Marcola estava preso em uma penitenciária de administração estadual em Presidente Venceslau (SP). O Estado de São Paulo é a principal área de atuação da facção.
Os criminosos foram transferidos a pedido de Lincoln Gakiya. Na época, ele classificou a ação como “a maior operação já feita”, e afirmou que esperava “desarticular momentaneamente a cúpula da facção”. O ministro da Justiça naquela ocasião era Sérgio Moro. Além disso, uma das mudanças do chamado ‘pacote anticrime’ de Moro foi a proibição das visitas íntimas a detentos em prisões federais, o que também foi mal recebido pelo PCC.
Gakiya, por ser do Gaeco, vive sob escolta há anos. Moro, por sua vez, vinha sendo escoltado pela Polícia Militar há cerca de dois meses, desde que o plano chegou ao conhecimento das autoridades. Moro soube do plano no fim de janeiro. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) também disponibilizou segurança para Rosângela Moro.
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