RIO – “Qualquer missão, em qualquer lugar, a qualquer hora, de qualquer maneira.” O lema dos “kids pretos”, como são conhecidos os militares do Comando de Operações Especiais do Exército, está gravado no histórico dos principais nomes do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nesta terça-feira, 19, a Polícia Federal (PF) prendeu um general reformado e três “kids pretos” que supostamente planejaram o assassinato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
A Operação Contragolpe investiga os responsáveis por um “detalhado planejamento operacional” chamado “Punhal Verde e Amarelo”. Foram presos Mário Fernandes, general da reserva, e os militares das Forças Especiais Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira, Rodrigo Bezerra de Azevedo. O policial federal Wladimir Matos Soares também foi detido.
Segundo a PF, esse plano seria executado em 15 de dezembro de 2022 e teria como objetivo o assassinato da chapa eleita na eleição presidencial de outubro daquele ano. Se o golpe de Estado fosse consumado, Moraes também seria assassinado.
O que significa ‘kid preto’?
“Kid preto” é o apelido para um agrupamento de elite das Forças Armadas do Brasil. Os ex-ministros Eduardo Pazuello (Saúde), Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil), o coronel da reserva Élcio Franco, que foi número 2 de Pazuello no ministério, e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, integraram as fileiras do grupamento de elite da Força.
General e ex-chefe de Comando teria concordado com golpe
De acordo com as investigações da PF sobre organização criminosa responsável por atuar em tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, o ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter) general Estevam Theóphilo, alvo da Operação Tempus Veritatis em 8 de fevereiro, teria concordado com a ideia de golpe em uma conversa com o ex-presidente. Theóphilo seria o “responsável operacional” por arregimentar as Forças Especiais do Exército para prender o ministro Alexandre de Moraes.
“Além de ser o responsável operacional pelo emprego da tropa caso a medida de intervenção se concretizasse, os elementos indiciários já reunidos apontam que caberiam às Forças Especiais do Exército (os chamados Kids Pretos) a missão de efetuar a prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes assim que o decreto presidencial fosse assinado”, diz a decisão que autorizou a operação da PF em 8 de fevereiro.
‘Kids pretos’ são treinados com táticas de guerrilha, planejamento de fugas e terrorismo
Os “kids pretos” são treinados para participar de operações com alto grau de risco com a aplicação de táticas de guerrilha, planejamento de fugas e terrorismo. Considerados a elite de combate do Exército, os militares são especialistas em ações de sabotagem e incentivo em revoltas populares (insurgência popular). Eles usam gorros pretos nas operações, por isso receberam esse nome informal.
O coronel do Exército Marcelo Costa Câmara, ex-assessor especial da Presidência e apontado como integrante do núcleo que alimentava Bolsonaro com informações que o ajudariam a consumar o golpe de Estado, foi um “kid preto”.
Ele também é investigado no caso das joias, revelado em uma série de reportagens exclusivas do Estadão, e foi citado pela PF como pessoa de interesse no inquérito que apura os indícios de adulteração no cartão de vacina de Jair Bolsonaro.
O advogado do coronel Marcelo Câmara, Eduardo Kuntz, afirmou que foi até Brasília para tratar do caso e que ainda não teve contato com o processo. “Já fiz uma petição eletrônica pedindo acesso e espero que não tenha dificuldades para acessar os autos desta vez. Meu cliente está preso e ter acesso aos autos é fundamental para que possamos tomar as providências cabíveis”, afirmou.
Outro investigado e alvo da operação desta quinta-feira, que integrou o grupo de elite do Exército é Mario Fernandes, chefe-substituto da Secretaria-Geral do governo Bolsonaro. Segundo a PF, ele fazia parte de um núcleo de oficiais de alta patente do Exército que tinha como objetivo mobilizar a caserna em favor do golpe.
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