O que o ato na Paulista diz sobre o espólio de Bolsonaro, as eleições de SP e o futuro da direita

Entorno do ex-presidente se beneficia de ato na Paulista, mas impacto ao ex-presidente é incerto, segundo analistas

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Foto do author Vinícius Valfré

O ato em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) realizado na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo, 25, mostra apoio popular ao ex-mandatário, confere evidência a alguns aliados e projeta alguns outros no espectro político da direita. Analistas, no entanto, entendem que a manifestação pouco deve afetar o futuro de Bolsonaro. A partir das repercussões sobre a manifestação e de avaliações de políticos e de especialistas, é possível apontar lideranças que se beneficiaram mais e menos do ato.

Jair Bolsonaro

O ex-presidente conseguiu fazer uma demonstração de apoio popular, mas a pressão que sofre com as investigações o levaram a mudar por completo o tom que adotava quando ainda tinha mandato. Bolsonaro poupou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), classificou a derrota eleitoral como “página virada”, clamou por uma anistia que poderia beneficiá-lo e viu aliados falarem abertamente na possibilidade de ele ser preso.

Bolsonaro reuniu milhares de pessoas em ato convocado após avanço das investigações sobre a articulação de um golpe de Estado Foto: Tabata Benedicto/Estadão

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“Bolsonaro continua sendo capaz de mobilizar sua base política e promover manifestações populares. Cada lado do jogo vai valorizar sua interpretação do fato, mas é inegável que bastante gente foi até a Paulista apoiá-lo”, aponta o cientista político Felipe Nunes, presidente do instituto de pesquisas Quaest.

Para o cientista político Marco Antônio Teixeira, o evento não muda o futuro de Bolsonaro e somente “mostra o que já sabíamos, que ele tem capital político”. Como exemplo, ele cita o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-presidente Dilma Rousseff, ambos do PT, também conseguirem mobilizar apoiadores durante investigações da Lava Jato e do processo de impeachment. As manifestações petistas não foram suficientes para reverter julgamentos desfavoráveis.

Silas Malafaia

Líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, o pastor evangélico Silas Malafaia foi o responsável pelo mais duro discurso no ato político. Ele atacou Moraes, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e afirmou não ter medo de ser preso. A postura de Malafaia foi criticada por alguns bolsonaristas, mas ele sagrou-se uma referência política no campo da direita.

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Organizador do ato, o líder religioso alimentou discursos que atenderam à bolha bolsonarista, como a que sugere uma “engenharia do mal” para prender o ex-presidente e um conluio do Judiciário para favorecer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição. “Todo mundo sabe como foi a eleição. Podiam chamar Bolsonaro de genocida, mas não podiam dizer que Lula é ex-presidiário”, declarou.

O cientista político Marco Antônio Teixeira avalia que o religioso “vira uma personalidade política” e sai como homem de absoluta confiança de Bolsonaro, o que pode gerar até ciúmes no entorno do político e nos filhos — Eduardo e Carlos sequer estiveram presentes no ato. “Se terá projeto político, não sei, mas com Bolsonaro fora tudo pode acontecer”, analisa.

Tarcísio de Freitas

No início do mês, o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, havia sido elogiado por Lula durante um evento com o presidente marcado por vaias ao governador. Dias depois, recebeu Bolsonaro no Palácio dos Bandeirantes e falou representando os governadores na manifestação na Avenida Paulista. Recebeu elogios de Bolsonaro e sinalizou fidelidade ao ex-presidente. “Eu não era ninguém, Bolsonaro apostou em mim”, declarou.

Tarcísio fez um discurso de defesa de Bolsonaro como um "movimento" e exaltou conquistas de seu governo Foto: Taba Benedicto

Tarcísio pareceu largar na frente na disputa pelo cobiçado espólio eleitoral de Bolsonaro, declarado inelegível por oito anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político e econômico ao atacar o sistema eleitoral em reunião com embaixadores. Também compareceram os governadores Jorginho Mello (PL-SC), Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG).

Ricardo Nunes

O resultado do cálculo eleitoral do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), ainda é incerto. Até então, a estratégia da campanha de Nunes à reeleição era se apresentar como um moderado para a disputa com o pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL). O prefeito contrariou recomendação do partido e não apenas compareceu à Paulista como foi vestindo amarelo, cor que ganhou um peso político em manifestações.

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Apesar do comparecimento, ele tentou ser discreto. Em cima do trio elétrico das principais lideranças, posicionou-se mais ao fundo, sem buscar forçar uma “foto” ao lado de Bolsonaro. Nunes tem agora sobre a mesa a decisão de aceitar ou não o indicado “linha dura” de Bolsonaro para ser seu vice em outubro.

Ricardo Nunes foi à manifestação vestido de verde e amarelo, apesar dos pedidos do MDB para que reconsiderasse sua presença Foto: Taba Benedicto/Estadão

Nikolas Ferreira

Se o bolsonarismo costumava se ancorar antes em políticos como Carla Zambelli (PL-SP), a lista de aliados com acesso ao microfone pode ter sinalizado que uma “nova geração” bolsonarista com mandato ganhou prioridade na fila, como os ex-youtubers Nikolas Ferreira (PL-MG) e Gustavo Gayer (PL-GO).

Deputado mais votado do País nas eleições de 2022, Nikolas Ferreira (PL-MG) optou por falar de “futuro”, sem alimentar brigas com ministros do STF. “A hora mais escura antecede o amanhecer. Talvez não hoje, talvez não amanhã, mas um dia veremos um presidente de direita retornar à Presidência do nosso país”, disse.

Bolsonarismo

A avaliação do ato feita por alguns dos principais aliados de Jair Bolsonaro no Congresso foi a de que a manifestação foi positiva ao bolsonarismo. A adesão popular e a volta de políticos da direita às ruas depois de meses amargando reveses e aparecendo como alvos de operações da Polícia Federal ajudaram a alavancar a significado político do protesto, segundo parlamentares em São Paulo.

O deputado Carlos Jordy (PL) considerou que o ato teve o papel de “desacuar” bolsonaristas. O parlamentar foi um dos alvos da 24ª fase da Operação Lesa Pátria, que apura organização e financiamento dos atos de 8 de Janeiro de 2023.

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“Estávamos acuados com tudo isso que está acontecendo, todas essas perseguições. E agora estamos voltando às ruas, mostrando que não vamos ficar calados nem aceitar tudo isso que está acontecendo, essa tirania de um Poder que deveria ser o guardião da Constituição”, disse.

Eleições 2024 e 2026

A manifestação também sinalizou que Jair Bolsonaro pretende usar seu capital político nas eleições de 2024, quando serão eleitos vereadores e prefeitos, e também nas disputas gerais de 2026.

“Em 2024, teremos eleições municipais. Vamos caprichar nos votos, em especial para vereadores. E também para prefeitos. E nos preparemos para 2026. O futuro a Deus pertence. Sabemos o que deve ser feito no futuro para que o Brasil tenha um presidente que tenha Deus no coração, ame a sua bandeira, cante o hino nacional e que ame de verdade o seu povo”, disse.

Em outra referência ao futuro, o ex-presidente, inelegível, reclamou de retirada de políticos das disputas por decisões judiciais. “Não podemos concordar que um Poder tire do palco político quem quer que seja, a não ser por um motivo extremamente justo”, afirmou.

O ato na Paulista também evidenciou pré-candidatos das eleições municipais no interior de São Paulo e de outros estados. As caravanas pró-Bolsonaro, por exemplo, serviram como propaganda de políticos do interior do Brasil.

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