Escolha de vices de Nunes, Boulos e Tabata envolve intrigas e novas alianças; veja os casos

A nove meses da eleição, definição dos vices para as chapas das principais candidaturas está tão movimentada quanto a própria escolha para chefiar a Prefeitura de São Paulo

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Foto do author Juliano  Galisi

É comum que os pré-candidatos às prefeituras sejam figuras conhecidas do eleitorado e se apresentem com antecedência para a disputa, tentando consolidar desde cedo os nomes para o pleito. A escolha do vice-prefeito, por outro lado, não desperta a mesma atenção. Não é o caso da eleição de 2024 na capital paulista: a nove meses da eleição, há pelo menos um “pré-candidato a vice” para cada um dos pré-candidatos a prefeito. A costura das chapas envolve intrigas e alianças improváveis. A indicação do vice para a chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB) vai “rifar” ao menos dois pré-candidatos a prefeito, além do próprio partido que elegeu Nunes, o PSDB.

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Na escolha dos vices para as chapas, o próprio Nunes foi pego de surpresa com a saída de Marta Suplicy, então secretária, para ser vice de Guilherme Boulos (PSOL), que tende a ser seu principal adversário nas urnas. Além disso, há o “fogo amigo” entre Luiza Erundina e Boulos: companheiros de chapa em 2020, Erundina critica a aproximação do PSOL com Marta, a quem já chamou de “traidora”.

Em novembro de 2023, um espectador da política paulistana diria que o retorno de Marta ao PT, partido que ela criticava desde 2015, era improvável. Esse acordo só não estava mais fora de série do que uma chapa “Tabatena”, juntando a deputada federal Tabata Amaral com o apresentador de televisão José Luiz Datena. Essa via se consolidou como a aposta do PSB na capital, mas aguarda o aceite oficial do jornalista.

Cotados a vice-prefeito em São Paulo em 2024 Foto: Alan Santos/PR, Felipe Rau e Alex Silva

Nunes: impasse e ‘rifados’

Ricardo Nunes foi eleito vice-prefeito em 2020 em chapa com Bruno Covas. Com o falecimento do titular, assumiu a Prefeitura e, desde então, o cargo de vice está vago em São Paulo. Por conta disso, a composição da chapa à reeleição é objeto de articulações nos bastidores. O prefeito negocia com o Partido Liberal (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro, um acordo que angarie o apoio da sigla mediante a nomeação do vice.

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Além da estrutura partidária da sigla presidida por Valdemar Costa Neto, que renderia à chapa tempo de televisão e recursos do fundo eleitoral, é importante que o nome escolhido seja de agrado dos eleitorados de Jair Bolsonaro e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Nas últimas semanas, o nome mais citado nos bastidores foi o de Ricardo Nascimento de Mello Araújo, coronel da reserva da Polícia Militar. O impasse, no entanto, persiste.

Impasse ronda a escolha do vice de Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo; no atual mandato, cargo está vago desde 2021 Foto: Felipe Rau/Estadão

Outros atores precisam ser levados em consideração. Se o PL é a sigla mais robusta da coligação, o que rende mais poder de fogo para indicar o vice, compor a chapa com Nunes frustraria os planos do deputado federal Ricardo Salles, que se colocou como pré-candidato no início de 2023. O União Brasil, por outro lado, deseja manter seus postos em cargos da Prefeitura, mesmo sem indicar o nome do vice. Se Nunes chegar a um acordo com o União, o rifado será o deputado federal Kim Kataguiri, que se apresenta como pré-candidato do MBL na capital paulista.

Ricardo Nunes era o vice de Bruno Covas, do PSDB, mas, em busca da reeleição, a recíproca não será verdadeira, pois se espera que os tucanos não participem da composição de chapa. “Temos que entender que o partido perdeu força”, disse o vereador e vice-presidente da Câmara Municipal, o tucano João Jorge, ao Estadão.

Se a candidatura de Nunes envolve ao menos três “rifados”, ele próprio sofreu um revés ao assistir Marta Suplicy deixar seu secretariado rumo à pré-candidatura de Guilherme Boulos, que desponta como o principal adversário do prefeito nas urnas.

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Boulos: fechado com Marta, rachado com ex-vice

Se o vice do atual prefeito é objeto de especulações, a chapa de Boulos com a ex-prefeita Marta Suplicy parece só aguardar a confirmação nas convenções partidárias. O acordo remonta a 2022, quando Boulos se apresentava como pré-candidato ao governo de São Paulo e concordou em retirar a candidatura para apoiar Fernando Haddad (PT) na disputa ao Executivo estadual.

O apoio do PT, em contrapartida, viria em 2024. Mas Marta nem sequer estava nos quadros petistas: afastada do partido desde 2015, a ex-prefeita, ironicamente, integrava a gestão Ricardo Nunes, na Secretaria de Relações Internacionais. A reaproximação veio por mediação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A nova filiação de Marta à sigla em que esteve por mais de três décadas está prevista para o próximo dia 2 de fevereiro.

Marta Suplicy e Guilherme Boulos se encontram em São Paulo e selam acordo para chapa à Prefeitura Foto: José Luis da Conceição

O acordo é tido como vantajoso para as duas partes, mas não agradou a petistas de alas internas mais à esquerda. O PT possui 14 tendências com representação no Diretório Nacional. Organizados dentro do partido, esses grupos podem divergir entre si, tal como a concordância ou não em filiar novamente Marta Suplicy.

É o caso do dirigente nacional Valter Pomar, líder da corrente petista Articulação de Esquerda (AE). “Marta traiu seu eleitorado e seu partido, votando a favor do golpe contra Dilma”, alegou Pomar em um artigo. E ele não é o único a dizer que Marta, repatriada, é uma “traidora”: assim também pensa a ex-prefeita Luiza Erundina, vice na chapa de Boulos em 2020.

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Na campanha eleitoral de quatro anos atrás, Erundina queixou-se do apoio de Marta ao prefeito Bruno Covas (PSDB), então candidato à reeleição e principal adversário da chapa à esquerda. “Marta está apoiando Covas. Ela traiu o PT, traiu a esquerda e traiu o povo”, disse Erundina na ocasião.

A aproximação do ex-companheiro de chapa com Marta Suplicy tem desagradado Erundina, que na semana passada apareceu ao lado de Tabata Amaral, pré-candidata e possível adversária de Boulos nas urnas.

Luiza Erundina, do PSOL, se encontrou com Tabata Amaral, pré-candidata que possivelmente vai enfrentar Boulos  Foto: @tabataamaralsp via Instagram

A foto com Erundina, pelo menos neste momento, não indica uma aproximação eleitoral, pois Tabata já tem seu favorito para compor a chapa.

Tabata: Datena ‘agrega’ ao projeto

Se a escolha do vice dependesse apenas de Tabata Amaral, a deputada comporia chapa com o apresentador José Luiz Datena, recém-filiado ao seu partido. Ao Estadão, Tabata afirmou que a adesão do jornalista “agrega muito” ao projeto do PSB na capital. “Se fizer sentido para ele ser o nosso vice, ele será”, disse a deputada na sexta-feira, 19.

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Tabata quer Datena como vice na chapa para a Prefeitura Foto: Tiago Queiroz

Tabata reforça que a palavra final é do jornalista. O principal entrave para a chapa “Tabatena” é que, segundo a legislação eleitoral, apresentadores de rádio e de televisão que desejam disputar as eleições devem se afastar dos meios de comunicação em junho. Em quatro ocasiões, Datena foi cogitado como candidato à Prefeitura de São Paulo e recuou nos momentos finais. Para 2024, a vantagem seria o fim do contrato com a Band neste ano.

Segundo a deputada, Datena “tem muita clareza” do que ela pensa sobre tê-lo como vice. “Sei que essa é uma decisão pessoal e que ele só terá condições de tomá-la na metade do ano. Mas, do meu lado, ele tem muita clareza de qual é a minha posição e qual é a do partido.”

Oficialmente, os partidos realizarão entre os dias 20 de julho e 5 de agosto as convenções partidárias para definir os candidatos que terão os nomes nas urnas em outubro.

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