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‘Esperamos que a harmonia vigore após as eleições’, diz presidente da Conib

Presidente da Conib diz que entidade defende pluralismo e a pacificação do cenário político

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Por Ananda Müller, especial para o Estadão
Atualização:

Combate ao antissemitismo, à deslegitimação do Estado de Israel e à banalização do Holocausto. Essas são as premissas básicas listadas pela comunidade judaica brasileira como pilares do diálogo com as pré-candidaturas presidenciais deste ano. O posicionamento está em um manifesto elaborado pela Confederação Israelita do Brasil. O presidente da Conib, Claudio Lottenberg, disse ao Estadão que o manifesto é dividido em sete pontos que reforçam premissas como a defesa da democracia e o combate a discursos de ódio. “A ideia é entregar uma carta de princípios a todas as chapas assim que elas forem definidas”, disse. A seguir os principais trechos da entrevista:

Qual foi a motivação para a elaboração do manifesto?

Trabalhamos durante os últimos meses para elaborar um consenso que pudesse representar o pensamento da comunidade num momento de extrema polarização. Queremos ocupar um espaço para que amanhã alguém não venha dizer que a comunidade apoia o candidato A, B ou C. Ela não tem candidato algum, vai se relacionar com todos e, principalmente, com quem vier a ocupar a Presidência.

As pesquisas apontam para um cenário eleitoral polarizado entre Lula e Bolsonaro. A Conib vai dialogar com ambos?

Vamos dialogar com ambos e colocar nossos pontos. É claro que individualmente as pessoas têm seus posicionamentos, mas essa avaliação dentro do âmbito comunitário é justamente o que nós queremos evitar de fazer. Ainda são contatos informais. A ideia, entretanto, é entregar uma carta de princípios a todas as chapas assim que elas forem definidas.

O manifesto versa sobre os discursos de ódio nas redes sociais, e recentemente tivemos casos de negação à existência do Holocausto. Qual o papel da entidade em relação a isso?

A Conib dialoga com diferentes governos para que o ensino do Holocausto seja obrigatório, não só pelo fato em si, mas também porque isso faz parte de um guarda-chuva maior chamado discurso de ódio. Ele dá vazão a um processo de intolerância. As pessoas ficam negando coisas fartamente documentadas, e nós vemos isso com muita preocupação.

Cláudio é oftalmologista com mestrado e doutorado pela Unifesp; tem 61 anos; é presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib). Foto: Felipe Rau/Estadão

O manifesto fala ainda no combate à perseguição das minorias. Há uma escalada nesse sentido?

Lamentavelmente, o cenário da globalização não trouxe aquilo que deveria ser o mais importante para as sociedades, que é a busca pela equidade. Pelo contrário, as diferenças se acentuaram, fazendo com que os regimes nacionalistas se mostrassem mais presentes. Junto a isso se observa muita intolerância, uma autodefesa muito grande. Essa intolerância, que em uma sociedade madura deveria estar diminuindo, está caminhando para um passo de maior relevo.

Como a Conib avalia a relação com Bolsonaro?

O presidente Bolsonaro teve uma relação muito cordial com a comunidade judaica. Sobre o Estado de Israel, ele fez movimentos muito positivos, ao contrário do que vinha acontecendo. Os posicionamentos internacionais foram muito mais equilibrados desde que o presidente Bolsonaro assumiu o governo, temos de reconhecer isso. Esse é o reflexo positivo, mas isso não gera qualquer vínculo (da comunidade) com o presidente.

Bolsonaro posou para fotos com uma política alemã neta de um ministro nazista. Como isso repercutiu na Conib?

A comunidade judaica se manifestou de forma bastante enfática, registrando seu repúdio. Independentemente das posições que ele tenha ao Estado de Israel, no momento em que ele sinaliza a um grupo mais radical de direita que tem um vínculo com o partido nazista na Alemanha, nós registramos posição, e faremos isso com outros presidentes.

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O que a Conib espera da situação política do Brasil?

Temos a expectativa de que a harmonia passe a vigorar a partir do momento em que superemos o período eleitoral. Não há como imaginar que isso aconteça antes das eleições.

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