Uma foto de dois torcedores do Corinthians dentro de um ônibus, feita em 2017, está sendo usada nas redes bolsonaristas para acusar a dupla de ter se infiltrado nas manifestações que resultaram em queima de carros e ônibus e em tentativa de invasão da sede da Polícia Federal em Brasília (DF) na noite desta segunda-feira, 12. Os atos de vandalismo começaram após a prisão do indígena José Acácio Serere Xavante.
A foto dos torcedores teria sido publicada no Facebook nesta segunda por uma página chamada Black Bloc ABC, junto com a legenda "Missão dada é missão cumprida" e marcação de localização no Distrito Federal. A página está fora do ar, mas imagens da postagem da Black Bloc ABC circulam com a alegação de que a foto comprovaria que os atos de vandalismo foram feitos por infiltrados. No entanto, a foto dos dois torcedores com roupa da Gaviões da Fiel está disponível na internet, pelo menos, desde 19 de junho de 2017.
Um dos rapazes que aparece na imagem é o pintor de paredes Jonathan José da Silva, que tinha 29 anos quando a foto foi feita. Ele tem um curativo no rosto, resultado de um ataque a pedradas praticado por torcedores do Coritiba contra um ônibus que levava torcedores do Corinthians até o Estádio Major Antônio Couto Pereira, onde o time paulista enfrentaria a equipe paraense, no dia 18 de junho de 2017, pelo Campeonato Brasileiro.
Jonathan levou chutes e pontapés na cabeça e, socorrido pelos bombeiros, foi atendido em um hospital, onde levou cinco pontos acima do olho esquerdo - por isso o curativo. Ele chegou a ser dado como morto, mas as autoridades locais corrigiram a informação no mesmo dia. O depoimento de Jonathan aparece neste texto publicado pelo jornalista Chico Lang, da Gazeta Esportiva. A foto, supostamente compartilhada nesta segunda pela página Black Bloc ABC, foi publicada no blog há mais de cinco anos.
Página excluída
Nas redes sociais, pelo menos dois parlamentares compartilharam as imagens como se mostrassem torcedores do Corinthians a caminho de atos em Brasília: os deputados federais Luiz Lima (PSL-RJ) e Bia Kicis (PL-DF). Lima compartilhou no Facebook supostos prints retirados da página Black Bloc ABC, cujos integrantes teriam estado em Brasília neste dia 12 de dezembro.
"Página Black Bloc ABC no Facebook, olha os vagabundos aí! Tem que ser muito ingênuo ou conivente com o crime para sustentar a narrativa de que foram as tias do zap a incendiarem carros e ônibus aqui em Brasília", escreveu, antes de atacar a imprensa.
O post de Luiz Lima foi compartilhado por um morador de Macaé (RJ), que por sua vez teve o link da publicação divulgado no Twitter por Bia Kicis: "Taí pra quem quiser ver. Quem acredita que as tias do zap viraram terroristas e atearam fogo a carros e ônibus?".
O Estadão Verifica buscou pela página Black Bloc ABC no Facebook, mas ela não está mais disponível na rede social.
Suspeitos
De acordo com o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Júlio Danilo, parte dos autores dos atos de vandalismo da noite desta segunda-feira em Brasília estava em um acampamento em frente ao Quartel General do Exército, na capital federal, conforme publicou o Estadão.
"Parte desses manifestantes, a gente não pode garantir que são todos que estejam lá porque alguns podem residir inclusive na cidade e em outros locais, mas parte realmente estava no QG, no acampamento, e participaram desses atos. Quem for ali identificado será responsabilizado", declarou Danilo.
O Estadão Verifica procurou os deputados Bia Kicis e Luiz Lima, mas não recebeu retorno até a publicação desta checagem.
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