BRASÍLIA – O desembargador federal Kassio Nunes Marques afirmou nesta quarta-feira, 21, não ter informações sobre quais são as atribuições de sua mulher, Maria do Socorro Mendonça de Carvalho Marques, que é funcionária do Senado. O tema veio à tona na sabatina do magistrado, indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), após o senador que a emprega, Elmano Férrer (Progressistas-PI), dizer ao Estadão que desconhece as atividades desempenhadas por ela, com salário de R$ 11,4 mil.
“Agora, o trabalho que ela desempenha, eu sabia, não sei lhe dizer... É alteração de gabinete toda hora... Mas o que eu sabia que fazia é exatamente… Essas respostas... Porque é vindo de lideranças, de questionamentos ao gabinete. Eu não sei se é o que ela desempenha, absolutamente”, disse ele, em frases sem sequência, ao responder à pergunta do líder do Cidadania, Alessandro Vieira (SE).
Logo em seguida, o desembargador admitiu não ter como responder à pergunta. “Eu realmente não tenho essa informação para lhe dar. Mas, muito provavelmente, eu também não sou a pessoa certa para lhe responder, que é um problema, uma dificuldade de todos os parlamentares egressos de Estados com certa dificuldade econômica”, afirmou.
Natural do Piauí, Marques não respondeu se exerceu influência para a contratação de Maria do Socorro pelo senador Férrer, seu conterrâneo. O desembargador disse acreditar que ela foi admitida porque parlamentares de Estados pequenos têm dificuldades para levar mão de obra a Brasília, por conta do alto custo de vida na cidade.
Como exemplo, Marques mencionou que um salário de R$ 10 mil é pouco para a vida na capital federal. “É muito difícil para um parlamentar importar toda força de trabalho do seu Estado. O custo de vida em Brasília é muito alto. No Piauí, com uma remuneração de R$ 10 mil é possível que se viva com muita dignidade sem faltar nada para filhos, em escolas particulares. Em Brasília, pagando aluguel e colocando dois filhos na escola, não sobra absolutamente nada”, disse.
Maria do Socorro seria alguém com vínculo com o Piauí e disposta a viver em Brasília. “Então, as pessoas que detêm algum tipo de experiência e que já moram em Brasília têm um facilitador para serem contratadas. Foi o que aconteceu, provavelmente. E não consigo, já peço perdão à Vossa Excelência, com exatidão, dizer. Mas ela já possuía uma experiência nessa Casa. Então, muito provavelmente, quando o senador Elmano vislumbrou essa possibilidade, a contratou”, comentou o indicado.
Economista, a mulher de Marques atua no Senado desde 2012, contratada pelos ex-senadores petistas Wellington Dias e Regina Sousa. Nesses gabinetes, segundo auxiliares dos ex-parlamentares – hoje, Wellington é governador do Piauí e Regina, vice–, ela desempenhou tarefas como a de “cuidar de correspondências e ofícios” e “preparar minutas de projetos”.
Na terça-feira, o senador Férrer afirmou, em entrevista ao Estadão, desconhecer as atividades desempenhadas por Maria do Socorro em seu gabinete. Ele também não quis revelar porque contratou a funcionária, no ano passado, embora tenha admitido que houve mudanças na equipe após ele ter saído do Podemos, em setembro, para se filiar ao Progressistas, partido comandado pelo senador Ciro Nogueira (PI).
“Eu tenho mais de 30 (funcionários) lá. Não sei o que... Ela é economista, trabalha lá”, afirmou Férrer ao Estadão. “Vocês estão querendo especular umas coisas. Eu não trato dessas questões administrativas de servidores, de o que fazem”.
Ao longo da manhã desta quarta, 21, até o início da tarde, o gabinete de Férrer, no anexo 2 do Senado, permanecia fechado. O senador tem 78 anos e é do grupo de risco da covid-19. Desde março, seus funcionários estão em trabalho remoto e ele tem evitado viajar para Brasília.
Procurada, Maria do Socorro atendeu a ligação, mas desligou em seguida quando a reportagem se apresentou. Um familiar dela também foi procurado, disse que daria retorno e não mais se manifestou.
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