RIO - Investigado como operador de um suposto esquema de “rachadinha” dentro do antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o ex-assessor Fabrício Queiroz pagou R$ 133,58 mil em dinheiro para cobrir as despesas médicas em São Paulo. Desse total, R$ 64,6 mil foram pagos ao hospital Albert Einstein pela cirurgia que fez em janeiro deste ano para retirada de um câncer no intestino. O restante pagou a equipe médica.
Segundo reportagem publicada ontem pelo jornal O Globo, o pagamento foi feito em 14 de fevereiro. A informação foi confirmada pelo Estado, que teve acesso à nota fiscal eletrônica emitida pelo hospital onde Queiroz se tratou. O documento aponta que o custo total do procedimento pago ao Einstein foi de R$ 86,1 mil e que o ex-assessor teve um desconto de R$ 16,1 mil, pagando, ao todo, R$ 70 mil. Os R$ 5,4 mil restantes teriam sido quitados com cartão de crédito – totalizando R$ 139 mil em gastos médicos.
De acordo com o documento, Queiroz foi internado em 30 de dezembro de 2018 e teve alta em 8 de janeiro deste ano. A cirurgia, segundo o Estado apurou, ocorreu no dia 1.º de janeiro. Desde então, segundo a defesa, o ex-assessor permanece em São Paulo se recuperando com o apoio da família e, por isso, faltou ao depoimento marcado pelo Ministério Público do Rio.
Os promotores queriam que ele explicasse as movimentações atípicas de R$ 1,2 milhão em um ano em sua conta bancária detectadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O caso foi revelado pelo Estado em dezembro de 2018.
Defesa. Em nota, o advogado Paulo Klein, que defende Queiroz, afirmou que “vê com naturalidade o fato de o Ministério Público investigar a origem dos recursos utilizados para pagamento das despesas médicas de Fabrício Queiroz” e que “a comprovação dos pagamentos com recursos próprios e dentro da sua capacidade econômica só reforçam que ele jamais cometeu qualquer crime”. O dinheiro usado para pagar a cirurgia estava guardado, de acordo com o advogado, em sua casa para amortizar o financiando de um imóvel no Rio.
No mês passado, Queiroz, Flávio Bolsonaro e outras 84 pessoas e 9 empresas tiveram o sigilo fiscal e bancário quebrados pela Justiça do Rio a pedido do Ministério Público. Os promotores apontam o que chamam de indícios robustos da existência de uma organização criminosa no gabinete da Alerj do ex-deputado e atual senador, que recolheria parte do salário dos assessores, prática conhecida como “rachadinha”, e faria transações imobiliárias com valores fraudados para “lavar dinheiro”.
Queiroz alega que arrecadava o dinheiro dos colegas de gabinete para contratar outros assessores externos a fim de aumentar a capacidade eleitoral da assessoria de Flávio Bolsonaro, sem o conhecimento do parlamentar. Flávio Bolsonaro nega que soubesse da prática do ex-assessor, diz que confiava em Queiroz. Afirma ainda que suas transações imobiliárias foram legais e que sofre perseguição do Ministério Público.
Hospital. O Estado procurou o Hospital Albert Einstein, que se manifestou por meio de nota. “Por questões de sigilo e privacidade, o Hospital Israelita Albert Einstein não fornece informações sobre seus pacientes.” Ainda em tratamento, Queiroz e sua família teriam se transferido para São Paulo. Além dele, a Justiça quebrou os sigilos bancário e fiscal de sua mulher e de suas duas filhas.
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