CPI de 8 de Janeiro: Ex-chefe da PM do DF fica em silêncio e alega não ter acesso a inquérito; veja

Coronel Fábio Augusto Vieira está preso preventivamente desde o último dia 18, acusado de ter participado dos atos golpistas do 8 de janeiro; Zanin autorizou agente a ficar em silêncio

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Foto do author Weslley Galzo
Atualização:

O ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Fábio Augusto Vieira, decidiu ficar em silêncio durante o seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro nesta terça-feira, 29. Ele estava à frente da corporação quando radicais invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília e é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de ter sido conivente com os manifestantes.

O coronel se valeu do direito ao silêncio num gesto de protesto contra a PGR e o Supremo Tribunal Federal (STF). Ele alegou não ter tido acesso à integra dos autos do inquérito e à denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) para pedir a sua prisão.

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“Não foi franqueado à minha defesa a íntegra dos documentos utilizados pela acusação na formulação da denúncia e, por orientação da minha defesa técnica, vou permanecer em silêncio até o acesso à íntegra dos autos”, disse o coronel.

A senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS) questionou Fábio sobre quais informações ele não teve acesso nos autos do inquérito, já que todos os parlamentares conseguiram acessar os documentos. O coronel respondeu que não foi disponibilizado o relatório sobre as trocas de mensagens entre ele e outros policiais.

“Mesmo ele não falando, vocês veem e observam que há um enriquecimento muito grande que joga luz sobre o que acontece aqui no dia 8 de Janeiro”, afirmou o presidente da CPMI, Arthur Maia (União Brasil-BA).

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A PGR apontou trocas de mensagens de teor golpista entre Fábio e outros integrantes da PM ao pedir pela prisão. Em um dos diálogos interceptados na investigação, o coronel escreveu que “a cobra vai fumar”, em relação ao dia 8 de janeiro. Em outra conversa foi identificado que Fábio recebeu de um policial uma foto do ex-presidente Jair Bolsonaro com os dizeres: A cara de quem tem as cartas na manga”. O coronel respondeu com um questionamento: “Será que o Brasil tem jeito?. As mensagens foram trocadas durante o impasse em torno dos acampamentos em frente ao Quartel General do Exército em Brasília.

Fábio compareceu fardado para presta depoimento à CPMI, assim como fez em seu depoimento à CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ele disse ter ficado “consternado ao ver vândalos, verdadeiros terroristas, depredando prédios públicos, monumentos históricos”.

Em sua exposição inicial, o ex-comandante ainda disse ter instruído as tropas sobre serem “um polícia de Estado e não de governo” e, por isso, deveriam “atuar para garantir o resultado proclamado nas urnas, a ordem e, sobretudo, a democracia até a transição presidencial”

O coronel está preso preventivamente desde o último dia 18 Foto: Reprodução/TV Câmara Distrital

A convocação do ex-comandante atende a seis requerimentos, encabeçados pelos senadores Izalci Lucas (PSDB-DF), Eduardo Girão (Novo-CE) e Marcos do Val (Podemos-ES), e pelos deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP), Delegado Ramagem (PL-RJ), Duarte Jr. (PSB-MA), Duda Salabert (PDT-MG), Marco Feliciano (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG).

Os parlamentares argumentam que ele teve “papel central” no episódio do 8 de Janeiro e dizem que o depoimento dele é “peça-chave” para esclarecer a responsabilidade pelos ataques. A maior parte dos que pedem a oitiva de Vieira são membros da oposição ao governo Lula. Ramagem, que é do PL de Jair Bolsonaro, afirma que o ex-comandante “chegou a se envolver pessoalmente na tentativa de conter os manifestantes”.

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Habeas corpus

Os advogados do coronel impetraram um habeas corpus no Supremo pedindo que ele fosse dispensado de depor e, se tivesse que atender à convocação, pudesse ao menos ficar em silêncio. O argumento da ação é que, como Vieira é investigado criminalmente pelo episódio, tem a garantia constitucional de não poder se auto incriminar.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin atendeu em parte o pedido. O magistrado autorizou o coronel a ficar em silêncio em questionamentos “capazes de incriminá-lo”. Zanin ainda previu ao ex-comandante o direito “de não ser submetido ao compromisso de dizer a verdade”, o que foi interpretado pelo presidente da CPMI, Arthur Maia (União Brasil-BA), como a autorização para o depoente mentir.

Prisão preventiva

O coronel está preso preventivamente desde o último dia 18. A Procuradoria-Geral da República apresentou uma denúncia criminal contra ele e mais seis membros da cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal, acusando-os de terem se “omitido no cumprimento do dever funcional de agir”.

Vieira responde pelos crimes de abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de Estado e dano ao patrimônio público. O caso está em segredo de Justiça e é conduzido pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes.

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Vieira responde a um processo criminal que está no gabinete do ministro do Supremo Alexandre de Moraes Foto: WILTON JUNIOR

Dois dias depois do 8 de Janeiro, Vieira foi preso por ordem de Moraes, sob a suspeita de ter participação nos atos golpistas. Quase um mês depois, em 3 de fevereiro, o magistrado lhe concedeu liberdade provisória. Vieira estava proibido de deixar os limites do Distrito Federal.

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