Ex-presidente do PL em Rio do Sul sobre Tiü França: ‘Ele era mais bolsonarista que outra coisa’

Eduardo Marzall comandava o partido em 2020, quando o autor do atentado na Praça dos Três Poderes candidatou-se pela sigla à Câmara Municipal da cidade, e relata conhecê-lo há quase 40 anos: ‘Era um cara pacato de uma cidade do interior’

PUBLICIDADE

Foto do author Levy Teles
Atualização:

BRASÍLIA – O autor do atentado usando bombas na Praça dos Três Poderes, Francisco Wanderley Luiz, conhecido como Tiü França, filiou-se ao PL para ser candidato em Rio do Sul (SC) em 2020 por causa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo o presidente do partido no município à época, Eduardo Marzall. “Ele queria entrar na política para fazer alguma coisa de diferente. Claro que ele tinha um apreço muito grande pelo Bolsonaro. Ele sempre falava que o Judiciário, no geral, era uma coisa que incomodava ele muito”, diz.

Marzall tem 55 anos, ocupa a função de vogal na sigla e relata conhecer Francisco Wanderley desde a idade de 16, cerca de 40 anos atrás. “Ele era um homem equilibrado e correto”, diz. A notícia o chocou e a todos os 72.587 habitantes do lugar. “Ficamos todos assustados. Ele era um cara pacato de uma cidade do interior. A cidade está toda estarrecida”, afirma.

Tio França foi candidato a vereador de Rio do Sul (SC) pelo PL, em 2020. Foto: Reprodução

PUBLICIDADE

Numa tentativa de desassociar o atentado desta quarta-feira a Bolsonaro, aliados do ex-presidente lembram que ele filiou-se ao PL apenas em 2021, e Francisco Wanderley foi candidato em 2020. Já no meio daquele período, porém, o PL havia embarcado na gestão Bolsonaro. Em outubro, o ex-chefe do Executivo indicou o então senador Jorginho Mello (PL-SC) como vice-líder do governo. Jorginho tornou-se um dos principais aliados dele ao longo do tempo, e usando essa bandeira, foi eleito governador de Santa Catarina em 2022.

Boa parte do interesse de Tiü França na política, recorda Marzall, vem do interesse dele por Bolsonaro. “Ele era mais bolsonarista do que outra coisa”, diz. O contato entre os dois arrefeceu-se com o tempo. A última recordação de contato com ele, diz, foi em 2022. Segundo o relato, Tiü França já defendia, por exemplo, a pauta do voto impresso, impulsionada por Bolsonaro. Marzall também acredita que ele agiu como “lobo solitário”.

O Estadão também revelou que o filho de Tiü França, Chairon Luiz, votou em Bolsonaro para presidente do no segundo turno, em 2022, e postou uma foto em seu perfil nas redes sociais. Ele cometeu um crime eleitoral fazendo isso e pagou uma multa de R$ 606.

Publicidade

Como mostrou o Estadão, o irmão de Tiü França, Valdir Rogério Luiz, notou que ele passou por um processo de radicalização e que o ataque teve motivações políticas. “O gatilho começou dois anos atrás, na polarização. As pessoas deixam se levar. Ele tinha uma causa, deixou escrito. Às vezes, existe uma motivação que acaba motivando as pessoas. A polarização é exemplo”, disse.

O autor do ataque já esteve na Câmara dos Deputados e visitou o gabinete do deputado Jorge Goetten (Republicanos-SC) no ano passado. Eles são do mesmo Estado, Santa Catarina. Goetten disse que conhecia Francisco Wanderley da cidade de Rio do Sul (SC) e que ele estava visivelmente “alterado” já em 2023.

Horas antes de realizar o atentado, Tiü França publicou mensagens com ataques a autoridades dos Três Poderes, repletas de teorias conspiratórias de extrema-direita.