O empresário Alexandre Ferreira Dias Santini, antigo sócio de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) numa chocolataria na Barra da Tijuca (RJ), cobra do senador na Justiça indenização de R$ 1,47 milhão. A cobrança tem duas justificativas: uma divisão desigual dos lucros e pagamentos que Santini diz ter feito sem receber reembolso.
O processo abre a caixa de contabilidade da empresa e traz vários comprovantes de pagamentos, incluindo transferências que saem da conta pessoal do empresário para a da loja de chocolates.
No entanto, na justificativa do pedido, Santini especifica apenas um gasto: R$ 65 mil pagos à Nogueira Materiais de Construção nos dias 23 e 30 de dezembro de 2019. A empresa de material de construção fica na cidade carioca de São Gonçalo, a 65 quilômetros da antiga chocolataria. Os outros gastos são apenas enumerados.
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O tipo de processo escolhido pelo empresário para solicitar a indenização é outra particularidade. Diferentemente de uma ação judicial convencional, que tem prazo de defesa, oitiva de testemunhas e apresentação de provas, Santini pede para fazer um acordo com Flávio, homologado pela Justiça. A homologação faz com que o ajuste entre os envolvidos tenha os mesmos efeitos de uma sentença.
A reportagem procurou Flávio, Santini e a Nogueira Materiais de Construção. A representante do estabelecimento chegou a confirmar que fez um serviço de reforma na chocolataria, mas disse que checaria se os pagamentos foram feitos e não retornou mais. O senador e o empresário não atenderam o Estadão.
Flávio foi investigado na Justiça por causa dessa loja de chocolates, uma franquia da Kopenhagen. O Ministério Público do Rio de Janeiro indicou suspeita de que ele teria usado a Bolsotini Chocolates e Café Ltda para lavar dinheiro que vinha de “rachadinhas” – prática na qual parte dos salários de assessores voltam para o bolso do parlamentar – em seu gabinete quando era deputado estadual no Rio. Na época, o MP chegou a apontar a lavagem de R$ 2,1 milhões apenas por meio da chocolataria.
Flávio Bolsonaro nega as acusações de envolvimento com “rachadinhas” desde que foram reveladas movimentações atípicas nas contas dele e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz. A defesa afirmou à época da rejeição da primeira denúncia apresentada pelo Ministério Público que o “caso está enterrado”. “Esse processo se tornou num linchamento contra mim. Nunca me recusei a ser investigado”, disse o senador em entrevista em 2021.
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A desavença entre Flávio Bolsonaro e Alexandre Santini foi revelada pelo Metrópoles e teria motivos pessoais. Ao portal, o empresário disse ter informações que incriminam o senador. “Se eu quiser, eu ponho o Flávio na cadeia. Com o que eu tenho na mão, ele vai preso. Sei tudo da vida dele”, afirmou o ex-sócio.
Os holofotes se voltaram para a chocolataria em 2020, por causa de uma inspeção feita pelo grupo CRM, proprietário de marcas de chocolate – entre elas, a Kopenhagen. O estabelecimento do senador e do empresário vendia os produtos a preços menores do que o tabelado, mas lançava os valores cheios nas notas. A prática, além de configurar crimes e ilícitos fiscais, viola as diretrizes que a companhia estabelece para franqueados.
Em fevereiro de 2021, Flávio e Santini venderam o ponto, que hoje é administrado pela própria CRM. Um mês depois, em março, o CNPJ da empresa foi baixado. Para isso, é necessário quitar todas as dívidas e pendências do estabelecimento.
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Nesse meio tempo, Santini buscou se blindar das investidas do Ministério Público. Enquanto Flávio chegou a ser denunciado e colocado no banco dos réus, em janeiro de 2020 o empresário conseguiu um habeas corpus para trancar o inquérito apenas em relação a ele.
O senador conseguiu anular no Superior Tribunal de Justiça (STJ) as provas colhidas durante o inquérito das “rachadinhas”, ato que teve como efeito rebote o desmanche da denúncia. No entanto, o caso continua aberto e recebeu novas provas, vindas das investigações de fraude nas carteiras de vacinação de Jair Bolsonaro (PL) e sua filha mais nova, Laura.